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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Lágrimas de Cristo!



Dona Nazaré é uma mulher de muita fibra. Muito pobre, vive sozinha nesse mundo, ao lado de sua filha, uma menina moça que nasceu com sérios problemas no sangue. Desde pequena a menina sempre viveu doente. Poucas foram as noites que Dona Nazaré não passou acordada boa parte do tempo, tentando aliviar a dor de sua pequena. Além das muitas dores que sentia em todo o corpo, a menina tinha uma fraqueza tão acentuada que a impedia de fazer até mesmo os serviços mais simples. Por ter que cuidar da filha e sendo sozinha no mundo, Dona Nazaré vivia de uma pensão de meio salário mínimo, conseguida à duras penas graças a ajuda de um vereador da região. O dinheiro mal dava para comer, quanto mais para comprar os remédios, cada dia mais necessários e mais caros.
A menina vivia a base de remédios caseiros e do cuidado primoroso de sua bondosa mãe. Infelizmente, com o passar do tempo o problema foi piorando. 

Naquela manhã, depois de uma noite inteirinha ao lado da filha querida, Dona Nazaré não teve outra saída, senão ir até Itajubá, a cidade mais próxima, para ver se conseguia alguma ajuda. Como não conseguiu dinheiro para levar a filha, que estava fraca demais, tentou ajuda junto aos estudantes de Medicina que fazem estágio no Hospital Universitário. Infelizmente o hospital não dispõe de condições para fazer atendimento domiciliar, ainda mais quando a paciente estava há uns dezoito quilômetros de distância.

Dona Nazaré não desistiu. Foi até a Santa Casa. Quem sabe ali encontraria um médico que pudesse ir até sua casa para tentar curar sua filha. Também aí não conseguiu nada, a não ser a promessa de que se trouxesse a menina, tentariam dar um jeito de interná-la, mas que, infelizmente, não teriam como se deslocar até o interior. Para ir até Delfim Moreira, pedir a ambulância da Prefeitura, era uma viagem fora de mão, por isso, quase impossível. O jeito era trazer a menina para a Santa Casa de Misericórdia de Itajubá.


Nasceu no coração daquela mãe aflita um raio de esperança. Quem sabe conseguiria alguém que a ajudasse a trazer a menina. Decidiu voltar para a casa e pedir a ajuda aos vizinhos, pensou especialmente no japonês, um plantador de arroz que tinha um Jipe, e de vez em quando as presenteava com meio saca de arroz recém colhido.

Quando voltava ao Mercado Municipal, onde tomaria o ônibus ou tentaria uma carona, Dona Nazaré passou em frente da Igreja Matriz Nossa Senhora da Soledade. Como boa mineira, entrou para rezar um pouco.

Dentro da Igreja tinha um grupo de animados jovens que rezavam e cantavam. Por alguns instantes dona Nazaré acabou se esquecendo de sua filha doente. A música daqueles jovens era bonita demais, e dona Nazaré foi se misturando ao animado grupo.

Depois de algumas suaves canções, os jovens começaram a rezar. Cada hora era um que fazia uma oração espontânea. Lindas e profundas orações. Dona Nazaré, se sentindo motivada, e talvez até mesmo contagiada pela fé daqueles jovens, quase da idade de sua filha, também se dispôs a fazer uma oração. Claro que os jovens ficaram felizes e acolheram com muito carinho sua disposição de rezar. Mas, quando a mulher começou a oração, alguns dos meninos tiveram que segurar muito para não cair na gargalhada. Que oração mais estranha aquela mulher estava fazendo! Ela falava com Jesus como se ele fosse um entregador de pizza, pensou um dos meninos. Quem será ela pensa que é Jesus para falar desse jeito com ele? Questionava, intimamente, uma das coordenadoras do grupo.

A mulher rezava com devoção:

- Senhor Jesus, olha, sou eu a Nazaré. Não sei se o Senhor se lembra. Sou lá do Biguá. Muitas vezes já conversei com o Senhor lá na Igreja São Benedito. Lembra? Pois é, Senhor Jesus, o problema da minha menina está cada vez pior. Essa noite ela não pregou os olhos nem um minuto. Eu também não. A pobre da coitadinha gemeu a noite toda. Virava de um lado para o outro, suava feito uma condenada. Não sei como ela está agora. Vim aqui para ver se achava um médico para ir lá em casa consultar ela.. Mas os médicos não podem ir. Se fosse o Doutor Gaspar eu sei que ele iria. Que Deus o tenha! Lá na Santa Casa mandaram eu trazer a menina. Como eu vou conseguir fazer isso? Ela está fraca demais. Não temos dinheiro para alugar uma ambulância. Até pensei em pedir ajuda ao seu Toshio, aquele bondoso plantador de arroz. Quem sabe ele traz a menina. Mas agora que estou aqui Senhor, eu queria pedir, já que o Senhor está em todo lugar, o Senhor bem que podia ir até lá em casa e curar minha filha. Não custa nada. O Senhor sabe e pode...

Os jovens estavam estranhando muito aquele jeito de rezar. Dois rapazes mais novos, não conseguindo segurar o riso, chegaram a sair da Igreja. - Onde já se viu uma pessoa rezar desse jeito? Até é falta de respeito falar assim com Jesus. Ela nem louvou o Senhor, não recitou nenhum verso da Sagrada Escritura. Ela não sabe rezar. Com certeza, nunca fez uma Experiência de Oração, e sua oração estava atrapalhando nosso grupo que estava indo tão bem - concluiu um dos rapazes que tinham saído. 

Dona Nazaré continuou com sua estranha oração:

- É verdade. O Senhor num instantinho podia ir lá em casa, curar a menina e já voltava. Não é difícil chegar em nossa casa. O Senhor pega a rodovia que vai para Aparecida do Norte, lá eu sei que o Senhor conhece bem. Na Ponte de Santo Antonio o Senhor entra rumo Delfim Moreira, só que a hora que chegar na Água Limpa, bem em frente a fábrica de queijo, o Senhor vira pra esquerda, passa a ponte e continua. Depois da ponte não vira para a direita não, lá vai para o Mosteiro de Serra Clara, minha casa fica na outra direção. Então, o Senhor passa a ponte e segue reto, em frente, sobe um morrinho meio pesado e vai virando para a direita. Logo o Senhor já chega na velha Estação, onde antigamente a gente pegava o trem. Não é lá não. Lá tem uma placa com o nome Biguá, mas o Biguá fica mais para cima. O Senhor passa as moradas do pessoal dos Ramos, depois vem a reta do Zé Gaspar, chega na curva da Crídia, e ali não vira pro lado da ponte não. Passa meio reto, pro lado esquerdo e sobe o morrinho do Grupo Escolar. O Senhor vai passar em frente a casa onde o Baiano morava, depois tem a casa que era do Venazão. Ali tem até um atalho, mas é melhor ir pela estrada mesmo, logo depois da curva o Senhor já vai ver a Igreja de São Benedito. Ali é fácil. É só o Senhor perguntar no Bar do Lourenço que ele sabe onde fica minha casa. Ele vende queijo, e é o vereador que arrumou o fundo rural para nós. É só o Senhor pedir pra ele que é até capaz de levar o Senhor lá em casa. Eu moro lá pertinho.

A esta altura os jovens já estavam se esforçando para não caírem na gargalhada, era uma experiência inédita, além de longa, aquilo, segundo eles, não era oração. Mas Dona Nazaré, continuou:

- A hora que o Senhor chegar lá em casa a porta vai estar trancada. Não tem problema. A chave está no vaso de flor que fica pendurado no alpendre. O Senhor pode entrar, cura a minha filha e depois, por favor, tranca de novo a porta, que eu me preocupo muito com a menina. Depois que o Senhor curar ela é só fechar a porta e colocar a chave no mesmo vaso, que a hora que eu chegar eu acho e entro.

O jovem que tocava violão, começou a tocar uma música e a cantar bem alto. Dona Nazaré parou sua oração e saiu da Igreja Matriz um tanto desconsolada. Nem deu tempo dela dizer para Nosso Senhor que tinha café no bule, em cima do fogão de lenha, caso ele quisesse tomar um golinho; e que no forninho tinha bolão de fubá. Paciência. Até que o jovem cantava bonito. Só foi meio grosseiro interrompendo sua oração...

Com o pensamento, continuou rezando. Desceu a escadaria da Matriz, atravessou a ponte, que antigamente era muito mais bonita, quando ainda tinha os arcos, e foi na direção do Mercado. Quem sabe um filho de Deus não lhe daria uma carona? 

Graças a Deus conseguiu uma carona no caminhão do Vicente Silva e, pouco mais de meia hora depois, lá estava ela, de volta, sem remédio e com a esperança de pedir ao senhor Toshio que levasse a menina para Santa Casa. Qual não foi sua alegre surpresa quando abriu a porta de sua casinha, e encontra sentada, comendo um delicioso prato de arroz-doce, sua filha querida. A menina deu um pulo de alegria e veio correndo abraçar a mãe. Dona Nazaré ficou estupefata. Já tinha até se esquecido de sua reza na Igreja Matriz. 

- Minha filha, você está de pé, que cara mais boa! Como isso aconteceu? 

E a menina, feliz e serenamente, explicou: 

- Olha mamãe. Eu estava deitada como a senhora me deixou. Rezei meu Terço da Misericórdia, junto com a Eliana Sá, escutando a rádio Canção Nova e acabei cochilando, ouvindo o Diácono Nelsinho Correa cantar quem me segurou foi Deus. De repente eu escutei um barulho na porta. Como estava quase dormindo, achei que fosse a senhora que já tinha voltado. Nossa mamãe! Quase eu morri! Não era a senhora. Era um homem, muito bonito, grande e risonho. Ele usava umas roupas bem diferentes. Tinha um cabelo enorme e me olhou como nunca ninguém me olhou na vida. Ele foi chegando perto de mim. Eu fui perdendo o medo. Comecei a sentir um negócio que parecia um choque elétrico. Meu sangue parece que fervia. Ele não falou nada. Foi chegando em silêncio, devagarinho, e com um baita sorriso nos lábios. Chegou perto da minha cama e me estendeu a mão. Pensei que fosse um médico. Tentei perguntar pela senhora, mas as palavras não saíram. Eu falava mas estava muda, ou surda, não sei direito. Só sei que ele me segurou firme pela mão, foi me levantando vagarosamente. Me colocou de pé e me deu um grande abraço.

Com os olhos cheio de lágrimas, Dona Nazaré foi reproduzindo quase que inconscientemente os gestos como a menina ia descrevendo. E ela, com os olhos molhados de lágrimas, continuou:

- Depois de me abraçar demoradamente, ele foi saindo bem devagarinho. Deu um gostoso beijo em minha testa e foi se afastando. Quando estava quase perto da porta ele fez um sinal de tchau e me falou: Diga para sua mãe que eu vou deixar a chave no vaso de flor! Depois ele ainda completou, sorrindo: Gostei muito da flor. É a primeira vez que vejo Lágrimas de Cristo em vaso. Adorei a ideia!

Claro que nenhuma das duas conseguiu achar palavras para manifestar sua gratidão a Jesus. A única coisa que fizeram foi buscar aquele vaso de Lágrimas de Cristo, colocá-lo sobre a mesa, perto do rádio, beijá-lo com um carinho quase sacramental, e olhando para o pequeno crucifixo da parede, fizeram chegar até o céu uma linda oração de louvor:
- Muito obrigada Senhor. Viu? O Senhor achou direitinho a minha casa. Eu não falei que era fácil? Obrigada mesmo. Eu tinha certeza que podia contar com o Senhor. Deus lhe pague!

Que oração espetacular! Tomara Deus que esses Roteiros Bíblicos possam ajudar cada um a ter a graça de uma experiência parecida com a de Dona Nazaré e de sua filha querida, então é sinal de que fizemos uma boa caminhada.
Deus abençoe você, hoje e sempre,
Tendo sempre Jesus como companheiro de Roteiro,
Abraça-o,

Pe. Léo scj



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