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sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Dá-me de beber!


"Se tu conhecesses o dom de Deus, e quem é o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva." (Jo 4,10)

Padre Fábio, meditando o Evangelho de São João (cap. 4) – a passagem da Samaritana–, ajuda-nos a entender a importância de rever o passado e projetar o futuro.
Você já pode perceber que uma pessoa, no momento que se encontra mais necessitada, torna-se também vulnerável? E há pessoas que têm o dom de nos seduzir.

Na leitura do Evangelho, a passagem da Samaritana (Jo, 4) aconteceu ao meio-dia. Essa mulher foi encontrada, talvez, no momento em que o corpo mais precisava de um cuidado.

O meio-dia representa, aqui, a separação daquilo que fizemos na manhã e o que vamos fazer à tarde. Esta “manhã” é simbolizada por aquilo que nos fez cansados, ou seja, o nosso passado, aquilo que já foi vivido. O perigo que podemos correr é de fazer, do período da “tarde”, uma repetição daquilo que vivemos no passado do nosso dia, isto é, a nossa “manhã”.

A “manhã” dessa mulher, como relata o Evangelho, foi toda errada, porque ela não alcançou seus objetivos. Então, entra Aquele por quem nos apaixonamos um dia: Jesus!
É Deus quem pede um favor para uma mulher que viveu uma manhã sem esperança. No diálogo com Jesus, a mulher recorda da sua manhã, reconhece-se “não merecedora”; vê-se totalmente tomada pela derrota. Só um olhar, como o de Jesus, para nos fazer esquecer tudo aquilo que não deu certo.
Às vezes, encontramos pessoas que nos fazem esquecer a nossa amargura, provocada pela vida. Jesus olhou para aquela mulher não para condená-la, mas para uma profunda cura interior.
Profeta não é aquele que nos aponta um futuro glorioso, mas que nos mostra aquilo que precisamos renunciar para, depois, assumirmos um futuro glorioso. Diante de Deus, máscaras não funcionam. O que aquela mulher precisava fazer era só ter a capacidade de dizer: “Eu sou isso”.
Enquanto fingirmos para nós mesmos, não iremos a lugar nenhum; enquanto não reconhecermos as nossas necessidades, nossas lutas e nossos males; enquanto não dermos nomes aos nossos inimigos e olharmos nos olhos deles, eles serão maiores do que nós. Enquanto tivermos medo dos malefícios da “manhã”, não seremos capazes de entrar na “tarde” com as cores de ressurreição.
É impossível amar o outro se antes o amor de Jesus não estiver amando em nós e não estiver nos devolvendo, o tempo todo, a nós mesmos. Quando nos amamos, o que, na verdade, estamos fazendo não é trazendo o outro para nós, pois isto é equivoco, é a “manhã” que não deu certo. Amor de ressuscitados, amor de homens e mulheres que acreditam em Deus não é amor que retém, é amor que devolve ele a ele mesmo. Amor humano é devolução, é restituição. A pessoa que aceita qualquer coisa também será deixado por qualquer coisa.
Quantos de nós temos de passar pelo duro aprendizado de dizer “não deu certo”. Essa é a coragem de olhar para nós mesmos e reconhecermos: “Não deu certo, mas ainda pode dar”. Por orgulho, nós mentimos para o outro. Jesus deu a força para aquela mulher reconhecer: “Eu não nasci para viver essa condição de miserável eternamente”.
Na sua vida, você faz a experiência de encontrar e de ser encontrado. Tantas vezes você esbarra naquele irmão que você já não vê há trinta anos e por quem já não sente mais nada. Irmãos que, há tanto tempo, não se encontram, porque não têm a coragem de contar a sede que têm do outro, e este não sabe que seu irmão está sedento.
Quantas relações humanas estão falidas porque as pessoas não conseguem mais reinaugurar um ao outro.
Às vezes, somos especialistas em colocar os olhos somente naquilo que não deu certo em nós.
Sabe o que mais me fascinava no padre Léo? A capacidade que ele tinha de não olhar a prostituta, mas de ver a mulher.
Comece pelos pequenos gestos, nem que seja lavando um copinho sujo de café. Eu sei que você tem realidades muito concretas, sobre as quais você pode dizer: “Eu não fui fiel, eu não fui irmão; eu fui pelo caminho da prostituição. Eu corri atrás do retrocesso, ao invés de correr atrás do poço de água limpa para por atenção na manhã que não deu certo. Confiei em estranhos, ao invés de confiar naqueles que me colocaram no mundo. Permiti que muitos me jogassem no barro da indiferença e esqueci-me de quem eu era”. Eu o desafio, agora, a estar sentado à beira do poço.
Ao invés de um rosto marcado pela revolta, no rosto de Jesus você encontra amor. Você pode correr para Jesus, pois a sua “manhã” só pode ser esquecida se você fixar o seu olhar no rosto d’Ele; neste olhar que pode reinaugurá-lo e tirar a placa que lhe dizia “falido”.
Hoje, receba a placa que diz: reinaugurado por Jesus.


"A Arte de ser encontrado por Deus"
Formação Canção Nova

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