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segunda-feira, 31 de março de 2014

Sábias Palavras

Hoje, dia em que estou ficando mais velhinha, vêm bem a calhar os ensinamentos da sábia senhorinha, que recebi com alegria como presente de aniversário.

Achei tão lindo que quis que outras pessoas conhecessem!





UMA LIÇÃO DE VIDA



Uma senhora idosa, elegante, bem vestida e penteada, estava de mudança para uma casa de repouso pois o marido com quem vivera 70 anos, havia morrido e ela ficara só…

Depois de esperar pacientemente por duas horas na sala de visitas, ela ainda deu um lindo sorriso quando uma atendente veio dizer que seu quarto estava pronto.
A caminho de sua nova morada, a atendente ia descrevendo o minúsculo quartinho, inclusive as cortinas de chintz florido que enfeitavam a janela.

- Ah, eu adoro essas cortinas – disse ela com o entusiasmo de uma garotinha que acabou de ganhar um filhote de cachorrinho.

- Mas a senhora ainda nem viu seu quarto…

- Nem preciso ver – respondeu ela. – Felicidade é algo que você decide por princípio. E eu já decidi que vou adorar! É uma decisão que tomo todo dia quando acordo. Sabe, eu tenho duas escolhas: Posso passar o dia inteiro na cama contando as dificuldades que tenho em certas partes do meu corpo que não funcionam bem… ou posso levantar da cama agradecendo pelas outras partes que ainda me obedecem. Cada dia é um presente. E enquanto meus olhos abrirem, vou focalizá-los no novo dia e também nas boas lembranças que eu guardei para esta época da vida. A velhice é como uma conta bancária: Você só retira daquilo que você guardou. Portanto, lhe aconselho depositar um monte de alegria e felicidade na sua Conta de Lembranças. E como você vê, eu ainda continuo depositando. Agora, se me permite, gostaria de lhe dar uma receita:

1- Jogue fora todos os números não essenciais para sua sobrevivência.

2- Continue aprendendo. Aprenda mais sobre computador, artesanato, jardinagem, qualquer coisa. Não deixe seu cérebro desocupado.

3- Curta coisas simples.

4- Ria sempre, muito e alto. Ria até perder o fôlego.

5- Lágrimas acontecem. Aguente, sofra e siga em frente. A única pessoa que acompanha você a vida toda é VOCÊ mesmo. Esteja VIVO, enquanto você viver.

6- Esteja sempre rodeado daquilo que você gosta: pode ser família, animais , lembranças, música, plantas, um hobby, o que for. Seu lar é o seu refúgio.

7- Aproveite sua saúde. Se for boa, preserve-a. Se está instável, melhore-a. Se está abaixo desse nível, peça ajuda.

8- Diga a quem você ama, que você realmente o ama, em todas as oportunidades.

E LEMBRE-SE SEMPRE QUE:

A vida não é medida pelo número de vezes que você respirou, mas pelos momentos em que você perdeu o fôlego …

de tanto rir …

de surpresa …

de êxtase …

de felicidade!

Simples assim!!!


Autor desconhecido

domingo, 30 de março de 2014

O Cântico mais lindo




A linguagem amorosa no Cântico dos cânticos



Por Pe. Daniel Guindon LC

O Cântico dos Cânticos é um livro sapiencial de valor ainda subestimado. O título significa: “o cântico por excelência” ou “o cântico mais lindo”. Ele canta o amor humano como era vivido no momento da Criação do homem e da mulher, quer dizer, antes do pecado; um amor cheio de charme, englobando as três esferas humanas: física, emocional e espiritual.

Parece ser que o Cântico fora escrito ao redor do ano 450 a.C, inspirando-se no casamento entre o rei Salomão e a filha do Faraó. É composto de dez poemas de amor que descrevem a relação amorosa entre dois noivos ou jovens esposos. 



João Paulo II dedicou seis catequeses para explicar o amor conjugal apresentado pelo Cântico, a partir de 20 de maio de 1984. Os temas que ele tratou foram os seguintes: o corpo como sinal do sacramento do matrimônio; a linguagem do corpo; as dimensões do amor esponsal; a verdade do amor que respeita a subjetividade recíproca; a tensão entre eros e ágape no amor; e finalmente, a ética do amor. 

Eu também quero dedicar alguns artigos para colocar aos leitores um desafio: viver seu amor conjugal ou de namorados com a mesma intensidade e pureza dos dois moços do Cântico. Hoje, quero iniciar apresentando a linguagem amorosa deste poema. 

O que talvez mais surpreenda o leitor ao mergulhar neste poema é a plasticidade da linguagem amorosa dos dois namorados (ou esposos, porque o autor não faz uma distinção clara). Eles não economizam palavras. Assim começa o texto:

O mais belo cântico de Salomão: 
A AMADA: Beija-me com beijos de tua boca! 
Teus amores são melhores do que o vinho,
O odor dos teus perfumes é suave, 
teu nome é como um óleo escorrendo,
e as donzelas, se enamoram de ti ... 
Arrasta-me contigo, corramos!
Leva-me, ó rei, aos teus aposentos 
e exultemos! Alegremo-nos em ti! 
Mais que ao vinho, celebremos teus amores! 
Com razão se enamoram de ti...

O que está fazendo o autor: cantando o amor livre, bandeira da revolução cultural do ’68? Este livro justifica as relações pré-matrimoniais, o estatuto das pessoas que vivem amigadas? Não! Na cultura hebraica, depois do pai da noiva apresentar para o noivo a sua filha, eles viviam juntos durante um ano, e depois disto se formalizava a união com o casamento e a bênção do sacerdote. Esta celebração do casamento é simbolizada em Ct. 3,6 ss, onde o escritor descreve a procissão de Salomão sentado em uma liteira. Para o Cântico, como disse no começo, não existe pecado, e por isso toda união entre homem e mulher é por si matrimônio. Ao se entregarem um para o outro é um compromisso definitivo. Por isso o uso aleatório e indistinto no texto das palavras esposos e noivos. 

O amor é belo, é doce. Os amantes experimentam o amor em toda a sua riqueza: são beijos, abraços, carícias, suspiros, união íntima, palavras de carinho, olhares tenros, encontros noturnos. Eles encontram todo tipo de palavras para falar do outro. A esposa é um lírio, um jumento, uma pomba, uma irmã, uma noiva, um vergel, um jardim fechado, uma fonte lacrada, a mulher mais bonita, como a lua e o sol. O esposo é um rei, uma macieira, um gamo, um filhote de gazela, o amado de seu coração, um irmão, uma videira. 

Eles valorizam a beleza corporal, que é caminho natural para a sedução do coração. Eles gostam de se contemplar, e cada um busca as comparações mais originais para descrever quem seu coração ama. Eis como se exprime o esposo em relação a sua amada:

Roubaste meu coração, 
minha irmã, ó noiva minha, 
roubaste meu coração 
com um só dos teus olhares, 
uma volta dos colares. 
Que belos são teus amores, 
minha irmã, noiva minha; 
teus amores são melhores do que o vinho,
mais fino que os outros aromas 
é o odor dos teus perfumes. 
Teus lábios são favo escorrendo, 
ó noiva minha, 
tens leite e mel sob a língua, 
e o perfume de tuas roupas
é como a fragrância do Líbano. (Ct. 4, 9-11)


O modelo de amor que o Cântico apresenta é um amor que não envelhece. O amor é composto de uma dinâmica cíclica: a tensão da busca e a alegria do encontro e da união íntima. Eles não podem permanecer sempre juntos, e se buscam continuamente. Às vezes não se encontram, e isto faz crescer o desejo do outro (acompanhado de certa angústia). São oito capítulos quem têm um início, mas não parecem ter fim, pois quando acaba o último versículo, é tempo para voltar ao primeiro. 

Eu convido meus leitores a analisar sua relação com o esposo/a ou o namorado/a. Existe o mesmo encanto? Por que a rotina? Não será em parte porque perderam a riqueza da linguagem amorosa, dos gestos, dos detalhes de amor? Talvez a falta de pureza, a concupiscência e o egoísmo ofuscam o amor. O Cântico apresenta um amor de entrega, de doação: “eu sou do meu amado, seu desejo o traz a mim”. É esta doação mútua, esta entrega recíproca que faz o amor forte como a morte, como sinete no braço.

Grava-me, como um selo em teu coração,
como um selo em teu braço; 
pois o amor é forte, é como a morte! 
Cruel como o abismo é a paixão; 
suas chamas são chamas de fogo 
uma faísca de Iahweh!
As águas da torrente jamais poderão apagar o amor,
nem os rios afogá-lo.
Quisesse alguém dar tudo o que tem para comprar o amor... 
Seria tratado com desprezo. (Ct. 8, 6-7)





Corpo e coração no Cântico dos Cânticos


Quero falar hoje de dois protagonistas especiais do Cântico dos cânticos: trata-se do corpo e do coração.

Podemos ficar impressionados, lendo o Cântico, da descrição sensual e erótica da relação de amor entre os dois protagonistas. Trata-se de um amor humano, e o autor não quer negá-lo: um amor concreto, vivo, apaixonado, erótico. Ele descreve o que desperta o amor do outro: o seu corpo, a sua beleza física; desperta o amor como paixão ou brama . Expõe também o que os esposos ou noivos sentem na presença do amado, e os seus sentimentos na ausência do ser querido. Expressa com imagens a união conjugal.

Precisamos neste momento entender a linguagem semítica. Na língua dos semitas, os conceitos abstratos eram expressos através de palavras muito concretas e plásticas. Por exemplo, para expressar o conceito de fé ou de verdade se acostumava utilizar a palavra "emet", que tem o significado de "solidez" ou "rocha".

Assim, no nosso poema, a palavra "corpo" não se limita ao significado da carne humana, mas se refere à totalidade do homem, incluindo a sua alma. Contemplando o corpo da sua amada, o namorado vê toda a pessoa dela; ele atribui a beleza também a sua alma porque o corpo é sacramento de toda a pessoa, como explicamos nos artigos anteriores. O amor que suscita esta contemplação não é cego e irracional, mas um amor bem consciente e por isso mesmo casto. Um amor que se concretiza na mútua doação realizada no matrimônio ao capítulo três. O esposo contempla o corpo da donzela que lhe pertence, e seu olhar é puro porque respeita a verdade.

O problema de nossa sociedade hodierna, explica Bento XVI na Deus Caritas Est, é que quer que o amor seja fruto somente de uma paixão, de um embriagamento divino, e por isso que seja sem compromisso. Tudo seria lícito com a condição das duas pessoas atuarem de livre vontade. A nossa sociedade não quer associar a dimensão de doação e de compromisso ao ato de amor entre duas pessoas.

O respeito pela verdade do amor faz com que o Cântico não seja censurável como eram os poemas egípcios e babilônicos: o amor não é por um objeto material – o corpo -, mas para toda a pessoa.

Com esta explicação podemos agora nos aproximar do texto sagrado e valorizar as palavras dos dois namorados. Eles estão extasiados diante do corpo físico do parceiro, mas com uma visão realmente sacramental. O que se diz do corpo vale para todo o sujeito.

1 Como és bela, minha amada, como és bela! ... 
São pombas teus olhos escondidos sob o véu. 
Teu cabelo ... um rebanho de cabras ondulando pelas faldas de Galaad.
2 Teus dentes ... um rebanho tosquiado subindo após o banho, 
cada ovelha com seus gêmeos, nenhuma delas sem cria. 
3 Teus lábios são fita vermelha, tua fala melodiosa; 
metades de romã são teus seios mergulhados sob o véu. 
4 Teu pescoço é a torre de Davi, construído com defesas; 
dela pendem mil escudos e armaduras dos heróis.
5 Teus seios são dois filhotes, filhos gêmeos de gazela, 
pastando entre açucenas. (Ct 4,1-5)





O Cântico não nega a verdade, e a visão cristã e humana da sexualidade, seguindo este texto revelado, também não. O corpo está na origem do amor humano e na essência mesma do amor matrimonial. É o atrativo físico que suscita a aproximação dos namorados, e é o ato conjugal dos esposos que consuma o matrimônio ratificado diante das testemunhas. Embora o corpo, com o passar dos anos, vai perdendo o vigor e o seu charme, ele precisa ser cuidado para sempre espelhar a beleza interior da pessoa. Porque o amor nunca será platônico, mas sempre para uma pessoa de carne e ossos. A explicação que nós estamos dando justifica as palavras que seguem aos versículos já citados. A amada é toda bela não tanto porque não tem nenhum defeito físico, mas a causa da sua interioridade.

7 És toda bela, minha amada, e não tens um só defeito! 
8 Vem do Líbano, noiva minha, vem do Líbano 
e faz tua entrada comigo.
Desce do alto do Amaná, do cume do Sanir e do Hermon, 
esconderijo dos leões, montes onde rondam as panteras.
9 Roubaste meu coração, minha írmã, o noiva minha, 
roubaste meu coração com um só dos teus olhares, 
uma volta dos colares. (Ct 4, 7-9) 

O texto nos introduz ao segundo protagonista, o coração. A palavra aparece cinco vezes no Cântico. Hoje entendemos o coração como órgão que faz circular o sangue, ou, na linguagem poética, é o sentimento de amor das nossas entranhas. O autor sagrado não o entende assim. Coração é a palavra usada para significar a alma da pessoa. A alma é a sede da inteligência, é o centro da pessoa. Quando o amado diz que a noiva roubou seu coração, quer dizer: “roubaste minha alma, o centro do meu ser, toda a minha vida”.

Existe unidade entre corpo e coração. O corpo exprime com seus gestos o que o coração sente; e o corpo da amada põe em movimento o coração do noivo. Ele se aproxima dela e a experiência do seu amor cresce. Não é só a vista que se regozija da presença da amada, mas também o tato e o olfato:

10 Que belos são teus amores, minha irmã, noiva minha; 
teus amores são melhores do que o vinho, 
mais fino que os outros aromas
é o odor dos teus perfumes. 
11 Teus lábios são favo escorrendo, ó noiva minha, 
tens leite e mel sob a língua, 
e o perfume de tuas roupas é como a fragrância do Líbano. (Ct 4,10-11)



O amado se aproxima dela porque ela consente. É um amor realizado na liberdade. O esposo se dá conta que sua amada é um jardim fechado. Somente se ela abrir a porta ele poderá entrar. Os esposos vivem o amor no respeito e da doação mútuos. Ela diz ao versículo 16: “Entre o meu amado em seu jardim e coma de seus frutos saborosos!” E então ele se une a ela.

12 És jardim fechado, minha irmã, noiva minha, 
és jardim, fechado, uma fonte lacrada. 
A AMADA 
16 Desperta, vento norte, aproxima-te, vento sul, 
soprai no meu jardim para espalhar seus perfumes.
Entre o meu amado em seu jardim 
e coma de seus frutos saborosos! (Ct 4,12.16)

Mais adiante, quando o amado vai visitá-la de noite, a noiva diz: “eu dormia, mas meu coração velava” (Ct 5,2). O verdadeiro amor dos esposos nunca dorme; sempre está em vela. A separação, quando física, nunca é espiritual. A alma sempre voa onde está o amado. Esta é a experiência de quem não deixou morrer o seu amor.

Finalmente, no último capítulo, o amado pede para ela: “grava-me como um selo em teu coração” (Ct 8,6). O amor é para sempre. É como um selo, uma tatuagem: uma vez gravado, não dá mais para tirar. Está gravado na alma, na dimensão espiritual da pessoa, naquilo que é mais profundo no homem. O matrimônio faz do homem e da mulher uma só carne. “O que Deus uniu, o homem não separe”.

Vemos assim quanto é belo o amor dos esposos, dos noivos e dos namorados quando se respeita a verdade inserida no coração humano. A linguagem do amor é muito rica, possui expressões próprias segundo o compromisso dos parceiros. A maturidade deles consiste em encontrar a expressão adequada, que respeite a verdade do seu compromisso. Porque os gestos do amor conjugal são diversos das manifestações de amor de dois namorados ou dos noivos.

No próximo artigo, irei falar mais sobre a linguagem corporal apresentada no Cântico.




Eu sou do meu amado, e meu amado é meu


Há dois anos acompanhei espiritualmente um acampamento de meninas italianas entre 9 e 10 anos na região do Lazio. É a idade própria da “amiga do coração” (l’amica del cuore). Elas escolhem uma amiga, e esta só pode ser dela, não pode pertencer a mais ninguém. Aconteceu que depois de vários dias algumas delas romperam com a “amiga do coração” por diversos motivos triviais, e começou a reinar uma grande fofoca no acampamento. As animadoras, já não sabendo o que fazer, pediram-me para conversar com elas sobre a virtude da caridade e sobre o valor do perdão e da reconciliação.

Esta concepção do amor como possessão faz parte do processo psicológico de amadurecimento da pessoa humana. A criança concebe o mundo de maneira egocêntrica, onde ele quer tudo para si e tem dificuldade para partilhar. Já na adolescência, vai aprendendo a respeitar os amigos e a não mais tratá-los como objetos. Porém, hoje em dia, ao analisar o relacionamento dos namorados, vemos com frequência o amado tratar o parceiro como um objeto de estimação ou de luxo. O garoto gosta de passear com a sua namorada diante dos companheiros para ostentá-la. Isso acontece porque vivem um amor de possessão; eles estão ainda na fase do amor na qual eu sou mais importante que o outro, e o parceiro é um objeto que me pertence.

O Cântico nos apresenta uma forma diversa de amor. O relacionamento não se caracteriza pela possessão, mas pela doação. A amada diz: “eu sou do meu amado, e meu amado é meu” (Ct 6,3). A pertença não é por apropriação, mas por doação. Antes de possuir o seu amado, ela se entrega a ele. Esta frase aparece duas vezes no Cântico, e outra vez de forma incompleta: em 2,16; 6,3 e 7,11.

Para muitos hoje o amor é paixão. A paixão enlouquece e impulsiona a pessoa a se apadroar de quem o atrai, sem respeitar a sua liberdade. É o que indicam os estupros e os atos de pedofilia. Ou sem chegar a estes extremos, a paixão leva a comportamentos violentos entre os parceiros.
Duas pessoas que entendem iniciar a aventura do matrimônio precisam se prometer, se manifestar e viver um grau maior de amor. Somente baseados no amor de ágape, a vida deles terá êxito.

O Cântico ilustra magnificamente este amor baseado na liberdade e na mútua doação. Em 5,2 ss, mostra uma cena romântica no campo. A amada mora numa casinha de verão no meio do jardim. De noite, impulsionado pela sua paixão, o amado chega até lá e bate à porta. Como ela demora em abrir, ele tenta forçar a porta. Coloca o dedo na fenda, mas sem êxito. A noiva se incorpora no seu leito, indecisa. A sua liberdade é a chave do encontro. Somente se ela se entregar a ele, se ela abrir a porta da casa que simboliza seu coração, acontecerá a união nupcial. O Cântico respeita o dinamismo da liberdade e do autêntico amor. Depois de um tempo, ela se decide, coloca seu vestido e abre a porta. Mas o noivo sumiu! A união não acontece mais porque o noivo renunciou, porque ele retirou a entrega de si mesmo. O amor unitivo é fruto de duas liberdades que se encontram e se doam.

“Eu sou de meu amado e meu amado é meu”. Além da entrega consciente e livre, esta frase expressa a irreversibilidade do relacionamento matrimonial. A entrega de um presente é definitiva. Não se dá algo para depois apropriar-se dele novamente. No Cântico percebemos a fidelidade dos esposos. Não há mulher mais bonita, não há marido mais atrativo. O amor não envelhece porque não é baseado somente no atrativo físico, mas porque os esposos cultivam uma amizade sincera, renovam constantemente os gestos de amor e se respeitam na manifestação do seu amor. Eles perseveram no amor porque são coerentes com a entrega mútua que eles fizeram, e receberam esta entrega no respeito, não como um objeto de possessão, mas como um bem precioso, uma pessoa, um sujeito espiritual que tem a mesma dignidade que si mesmo.

É este tipo de relacionamento no amor que a sociedade de hoje precisa redescobrir. É urgente reencontrar o equilíbrio entre eros e ethos, entre o amor apaixonado e a liberdade alheia. Somente sobre a entrega mútua de duas vontades livres pode se basear um matrimônio feliz e duradouro. O amor de ágape, o amor generoso e desinteressado é a raiz da vida nupcial. No próximo artigo, falaremos amplamente sobre a harmonia do casal do Cântico.



***Sobre o autor: Pe. Daniel Guindon, LC, 
formado no Ateneu Pontifício Regina Apostolorum de Roma, 
é atualmente professor de teologia moral sexual no seminário 


Maria Mater Ecclesiae de São Paulo.





Cântico dos Cânticos: O homem tal qual ele é diante da mulher tal qual ela é


Cântico dos Cânticos: dois amantes que se buscam, que se olham, se contemplam. Só se lembram do amor e se esquecem do amor. Em tudo procuram o amor e em tudo o evitam.

Têm receio de abrir a porta de casa ao amor e ousadia para enfrentar, em nome dele, as austeras sentinelas que vigiam a cidade, quando e noite. Tem receio dos mil lugares onde o amor assoma, mas em mil lugares o buscam, se, por uma hesitação ou um silêncio, dele se perdem.

Escondem-se e reencontram-se. Incessante deslocação de corpos. De desejos. Como num jogo. E dizem: “O meu amado e para mim como um ramo de mirra”; “és formosa amiga minha, os teus olhos são como os das pombas”; ou “grava-me como um selo em teu coração/ como um selo em teu braço;/ pois o amor e forte como a morte”.

Falam do seu amor com uma intensidade tal que nos fazem ver, como escreve Paul Beauchamp, que “não existe sexualidade sem a palavra, como não existe desejo. A sexualidade humana e aquela que é dita”.

Os rabinos, no sínodo de Jabneh (90 d.C.), discutiram sobre a canonicidade do Cântico dos Cânticos. Alguns achavam‑no demasiado cheio de paixão. E lamentavam-se, sobretudo, que fosse, frequentemente, repetido em tabernas.

Mas na Mishna esta escrito: “O mundo inteiro não e digno do dia em que o Cântico dos Cânticos foi dado a Israel. Todos os livros são santos, mas o Cântico dos Cânticos e o mais santo de todos”.

Santa Teresa de Ávila diz recordar-se de “ouvir a um religioso um sermão admirável em extremo, e o mais dele foi a declarar estes regalos de que a Esposa tratava com Deus. E houve tanto riso e foi tão mal tomado o que disse, porque falava de amor, que estava espantada”. Contudo, a sua experiencia de leitora deste livro é bem diversa: "O Senhor tem-me dado, desde há alguns anos para cá, um grande gosto cada vez que ouço ou leio algumas palavras do Cântico dos Cânticos, e isto em tanto extremo que, sem entender com clareza o latim, a minha alma mais se recolhia e movia então do que com os livros muito devotos que entendo”.

Um dos contributos mais originais que a modernidade inscreveu na história da interpretação deste singular livro tem sido o da sua interseção com outros campos culturais, valorizando assim o fenômeno da intertextualidade. Os pólos que mais frequentemente recorrem neste confronto são o egípcio, o mesopotâmico e o da área sírio-palestina.

A dar confirmação a uma influência egípcia (sugerida, por exemplo, pelos perturbadores paralelos entre algumas passagens do nosso livro e textos contidos quer no Papyrus Harris 500, descoberto no Ramesseum de Tebas, quer nos Cantos da Grande Alegria do Coração do Papyrus Chester Beatty I), o Cântico dos Cânticos seria uma antologia de textos de diversão destinados, no Egito, as ocasiões festivas.

Esta tese tem um aliado vigoroso e imprevisto em Teodoro de Mopsuéstia que, no séc. V, contestava a canonicidade do Cântico dos Cânticos dizendo que ele celebrava, “sem intenção suplementar, as núpcias de Salomão com uma princesa egípcia”.

Por sua vez, a relação com a literatura mesopotâmica far-se-ia através de textos de índole cultual, vinculados a um cenário de hierogamia, que colocavam em ação as rivalidades amorosas dos deuses Dummuzi e Enkimdu e da deusa Inanna. Enquanto que da área sírio-palestina a influência viria sobretudo do folclore praticado no ciclo dos sete dias festivos que se sucedia a coroação matrimonial dos esposos, a maneira de um rei e de uma rainha.

Mas se é verdade que o confronto com estes modelos literários, próximos no tempo e no espaço ao escrito bíblico, fornece alguns contributos esclarecedores, ele não elide uma dificuldade essencial: o facto do estudo comparativo ser extremamente fragmentário, ignorando, como escreve Anne-Marie Pelletier, “a coerência global do texto” e a sua “inserção num contexto singular que o qualifica e o interpreta necessariamente”.

Cântico dos Cânticos retoma vocabulário comum aos cultos e rituais de exercícios religiosos coevos, nomeadamente vocabulário hierogâmico, mas fá-lo para o reinscrever num contexto que nega a relação mitológica do homem e da mulher, formulada aqui em termos históricos e não enquanto participação mágica do horizonte humano no divino.

Este livro, do séc. V ou IV a.C., como defende Maillot, “é, portanto, uma desmitização, uma  humanização e uma liberalização do amor. E a libertação em relação aos mitos da fecundidade. E a afirmação que o amor de um homem e de uma mulher e em si mesmo justificado”.

Recordemos que nenhum outro livro bíblico dá a palavra à mulher numa tal proporção. Ela busca e é buscada. Pede e é pedida. A sua palavra abre o canto: “Beije-me ele com os beijos da sua boca”. A mulher olha para o homem e avizinha-se a ele com a mesma impaciência e a mesma alegria que ele a ela.
Este co-protagonismo é muito interessante. Porque tensões, paradoxos, desníveis (por exemplo, o facto de a mulher não ser tratada em paridade, não ser tomada como sujeito) que não conseguiam resolução em outros tipos de discurso, conseguem-na primeiramente no discurso amoroso.

Na opinião do teólogo Karl Barth, os textos de Génesis 2 e o do Cântico dos Cânticos são os que, no Antigo Testamento, perspetivam de modo mais original o amor humano.

A tendência predominante é a que situa a sexualidade do Ser Humano em função quase exclusiva da posteridade e, por conseguinte, no contexto da vocação deste povo e da expectativa messiânica (um dos nascidos, entre os descendentes de David, seria o Messias, por isso a instituição matrimonial era tão importante).

No Cântico dos Cânticos temos a afirmação de um outro aspeto (em verdade, mais complementar que opositor): “O enamoramento – escreve Barth – não já do pai ou do chefe de família potencial, mas simplesmente do homem tal qual ele e diante da mulher tal qual ela é”.


José Tolentino Mendonça
In As estratégias do desejo
22.11.11 









        
                  


















































































"Em meu leito, durante a noite, procurei o amado da minha alma. Procurei-o, e não o encontrei. Vou, pois, levantar-me e percorrer a cidade, pelas ruas e pelas praças, procurando o amado da minha alma."
Cântico dos Cânticos 3,1-2





"O meu amado é claro e corado, inconfundível entre milhares. Sua cabeça é ouro puro e os anéis de seus cabelos, como cachos de palmeiras, negros como o corvo. Seus olhos são como pombas à beira dos riachos, lavadas em leite e repousando junto a torrentes borbulhantes.'

Cânticos dos Cânticos 5, 10-12)


"Como a macieira entre as árvores dos bosques, assim é o meu amado, entre os moços. À sombra de quem eu tanto desejara me sentei, e seu fruto é doce ao meu paladar." Cântico dos Cânticos 2,3



"As muitas águas não poderiam apagar o amor,  nem os rios, afogá-lo; ainda que alguém desse todos os bens da sua casa pelo amor,  seria de todo desprezado".
Cântico dos Cânticos 8:7


















































































De acordo com o título em 1.1, o cântico dos cânticos foi escrito por Salomão, filho do Rei Davi. Pode-se dizer que é "de Salomão", pois a expressão hebraica "de Salomão" (1.1) pode ser traduzida "de" Salomão (como o seu autor) ou "para" Salomão (como a pessoa à qual o livro é dedicado). A opinião tradicional entre judeus é a de que Salomão foi o seu autor (Cf. 1Rs.4.32); para os católicos este livro pertence ao agrupamento dos Sapienciais, que condensam a sabedoria infundida por Deus no povo de Israel. Como pertence ao grupo dos sapienciais recebe como autor a figura simbólica de Salomão, o modelo da sabedoria em Israel. Tem sua escrita estimada por volta do ano 400 a.C, e constitui-se de uma coletânea de hinos núpcias.
Segundo a Edição Pastoral da Bíblia, o livro é uma coleção de cantos populares de amor, usados talvez em festas de casamento, em que noivo e noiva eram chamados de rei e rainha, que foram reunidos, formando uma espécie de drama poético, e atribuídos ao rei Salomão, reconhecido em Israel como patrono da literatura sapiencial. A forma final do livro, remonta ao século V ou IV AC.
Tradução Ecumênica da Bíblia sustenta que seu autor certamente não é Salomão.

Cânticos dos Cânticos é um livro curto, com apenas oito capítulos. Apesar de sua brevidade, apresenta uma estrutura complexa que, por vezes, pode confundir o leitor. Diferentes personagens têm voz, ou falam, nesse poema lírico. Em muitas traduções da Bíblia, esses emissores alternam sua fala de modo inesperado, sem indicação ao leitor, dificultando, assim, sua leitura. Algumas versões, como a Almeida Revista e Atualizada e a Bíblia de Jerusalém, eliminam o problema com a indicação de quem está falando.

Os três participantes principais do poema são: (1) o noivo, o Rei (1,4.12) Salomão, isto é, "o Pacífico" (3,7.9) ; (2); a noiva, mulher mencionada como "Sulamita" (6.13), a Pacificada , aquela que encontro a paz (8,10) ; e as "filhas de Jerusalém" (2.7). Tais mulheres devem ter sido escravas da realeza que serviam como criadas da noiva do rei Salomão. No poema, servem como coro para ecoar os sentimentos da Sulamita, enfatizando seu amor e afeição pelo noivo.
Além dos personagens principais, são mencionados os irmãos da Sulamita (8.8-9), que devem ter sido seus meio-irmãos. O poema indica que ela trabalhava, por ordem dos irmãos, como "guarda de vinhas" (1.6).
Essa canção de amor divide-se praticamente em duas seções principais com mais ou menos o mesmo tamanho. O início do amor (cap. 1-4) e seu amadurecimento (cap. 5-8).
Por ser um poema escrito em uma linguagem considerada sensual, sua validade como texto bíblico já foi questionado ao longo dos tempos. O poema fala do amor entre o noivo e sua noiva. O nome de Deus só aparece nele de forma abreviada, em 8,6, "uma chama de Iah(weh)" .
A interpretação alegórica, segundo a qual o amor de Deus por Israel e o do povo por seu Deus são representados como as relações entre dois esposos, tornou-se comum entre os judeus a partir do séc. II DC, tal interpretação tem paralelo no tema da alegria nupcial que os profetas desenvolveram a partir de Oséias .
Orígenes seguia essa mesma linha, mas via as núpcias de Cristo com a Igreja, ou a união mística da alma com Deus , São João da Cruz teria o mesmo entendimento.
O poeta parece retomar a linguagem profética da aliança, como na expressão "procurar, encontrar" (3:1-2), além disso, a obra teria contatos com o Salmo 45 .
Outros exegetas entendem que o livro celebra o amor mútuo e fiel, que sela o matrimônio abençoado por Deus.


Contexto

Apesar de mostrar alguns vislumbres da corte de Jerusalém, o cenário campestre dá o tom do enredo. O autor faz alusões a jardins, árvores, flores, montanhas arborizadas, animais selvagens, vinhas e fontes. Os locais variam de Em-Gedi e Jerusalém: “Como um cacho de Chipre nas vinhas de En-Gedi, é para mim o meu amado.” (1:14); “Formosa és, amiga minha, como Tirza, aprazível como Jerusalém, formidável como um exército com bandeiras.” (6:4), no sul, até os montes Hermom: “Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos leopardos.” (4:8) e Líbano: “O rei Salomão fez para si um palanquim de madeira do Líbano.” (3:9); “Vem comigo do Líbano, minha esposa, vem comigo do Líbano; olha desde o cume de Amana, desde o cume de Senir e de Hermom, desde as moradas dos leões, desde os montes dos leopardos. Favos de mel manam dos teus lábios, minha esposa! Mel e leite estão debaixo da tua língua, e o cheiro das tuas vestes é como o cheiro do Líbano. És a fonte dos jardins, poço das águas vivas, que correm do Líbano!” (4:8,11,15), no norte.

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sábado, 29 de março de 2014

Profetas - Homens de Deus que Defendem a Verdade



Objetivos:

  • Criar o hábito "da escuta" da Palavra de Deus através da leitura da Sagrada Escritura.
  • Incentivar "o estar disponível" para exercer a missão de profeta, sem medo, tendo a certeza de que Deus estará amparando, iluminando e alimentando com o seu Espírito.

Conteúdo:

1) Deus se manifesta de muitos modos:
  • Através dos acontecimentos
  • Através dos profetas


2) O profeta
  • chamado
  • missão
            - Anunciar e denunciar;
            - Perceber os projetos de Deus para si e para o povo;
            - Testemunhar com a vida;
            - Ser obediente;
            - Ter intimidade com Deus.


Ambiente:

  • Preparar a sala colocando uma toalha na mesa, flores, vela e a Bíblia.

Recursos:

  • 02 cartolinas, cola, nomes dos livros proféticos digitados para dois grupos.





1. Acolhida e Oração Inicial

  • Receber a turma com carinho e simpatia. Cantar música animada. Sugerimos a nº 14, cantando ao menos a primeira estrofe e fazendo a brincadeira do trenzinho.
  • Acalmar a turma para rezar. 
  • Motivar: Mais um vez estamos reunidos. Deus quer nos mostrar como ser sábios e inteligentes, vivendo a vida com alegria e em paz. Por isso, pedimos que o Senhor sempre nos ilumine, para que possamos enxergar as coisas belas que a vida tem. Amém! 
  • Encerrar com a música 12, para recordar o encontro anterior.

Símbolo litúrgico: a língua - espada afiada

O ser humano se comunica através da linguagem. Para falar, ele utiliza a língua. Sem a língua a pessoa não pode falar. No universo existe uma infinidade de "línguas", o que causa grande falhas de comunicação. Em Pentecostes, com a vinda do Espírito Santo, a Palavra de Deus é dirigida a todos os seres humanos, para que "toda língua proclame para a glória de Deus Pai, que Jesus Cristo é o Senhor" (Fl 2,11). Um símbolo da língua é a espada.

A espada é uma arma usada para a luta. A espada de dois gumes (que corta dos dois lados) era a preferida. Pedro, quando Jesus foi preso no Jardim das Oliveiras, tinha uma espada com ele e cortou a orelha de um servo. Jesus manda que ele guarde esta espada. Mais tarde, Pedro usaria outra espada para a evangelização: a sua língua.

A língua é uma espada que mata quando usada para mentir, para causar o mal (cf. Pr 10,31; 17,4; Sl 52,4; 57,5; 64,4). O dano da língua maldosa é terrível (cf. Eclo 28,13-26).

São Paulo escreve que a "Palavra de Deus é mais penetrante do que a espada afiada de dois gumes, que penetra até dividir alma e espírito, junturas e medulas. Ela julga as disposições e intenções do coração" (Hb 4,12; Is 49,2). O cristão é convocado a um combate espiritual e deve  usar neste combate a espada da Palavra de Deus (cf. Ef 6,17). O autor do Apocalipse, ao descrever a figura do "Filho do Homem", coloca em sua boca uma espada de dois gumes (cf. Ap 1,6; 2,12.16; 19,15.21). São Paulo é representado com duas espadas, uma pelo seu martírio e outra simboliza a força e a coragem com que ele anunciou a Palavra de Deus a todos os povos.

2. Motivação

Antes de refletir sobre o profetismo, vamos relembrar a caminhada do povo de Deus.

O Êxodo foi a experiência fundamental desse povo: a libertação da escravidão. A experiência do deserto deu a certeza de que Deus está presente na história. Um Deus que caminha com aqueles que desejam a sua própria libertação.

Chegada à Terra de Canaã = Terra Prometida:

  • ocupação da nova terra;
  • o povo torna-se uma nação;
  • os diversos clãs formam tribos;
  • até o fim do século IX a.C. , o povo mantém uma organização social, baseada nas tribos, independentes umas das outras, mas unidas na mesma fé em Javé;
  • ao chegar na Terra Prometida, encontraram outros povos, e o relacionamento com esses povos influiu nos costumes, nas tradições e na religião dos israelitas;
  • quando surgiam dificuldades, apareciam Juízes, ajudando o povo a sair da opressão dos inimigos;
  • com a entrada dos filisteus, que criaram lutas, o povo se sente ameaçado e tem necessidade de unir forças para uma melhor organização social e política.

O povo não aceitava a realeza: só aceitava Deus como Rei. Era teocrata. Mas, apesar da resistência do povo e por necessidade de defesa e também seguindo o exemplo de outros povos, Israel se organiza em monarquia.

Três reis reinarão sucessivamente: Saul, Davi, Salomão.
(Falar sobre os primeiros reis).

É chamado o período do Reino Unido que durou de 70 a 100 anos, aproximadamente. Foi um tempo de triunfo e aparentemente, de paz.

Mas no final do reinado de Salomão, a situação se torna insustentável: o povo se vê obrigado a pagar alguns impostos para que Salomão possa manter o luxo do palácio. O povo sofria e relembrava a experiência do deserto.

Com a morte de Salomão o povo do Norte toma consciência, reage e se torna independente. Aí acontece o Cisma, a divisão do Reino:

Reino do Norte: Israel, capital em Samaria, governada por Jeroboão.
Reino Sul: Judá, capital em Jerusalém, governada por Roboão.

O Templo construído por Salomão, ficava em Jerusalém. E Jeroboão, rei na Samaria, teve medo que o povo fosse em Jerusalém para adorar no Templo. Para impedir a ida do povo do Norte até lá, ele levanta dois altares nas cidades de Dan e Betel.

Apesar da divisão do Reino, a situação não melhora. O povo sofreu três calamidades:
  • guerra: saques e destruições;
  • injustiça social: exploração dos fracos;
  • idolatria: os reis arrastavam o povo ao abandono da fé no Deus único.

A divisão do reino e a constante luta entre eles e também com os outros povos, levam os dois reinos à destruição.

Em 722 a.C., o Reino do Norte é invadido pelos assírios, e em 587 a.C., o Reino do Sul é levado, como cativo, para a Babilônia.

Mesmo assim, o povo não perdeu a esperança, porque era um povo depositário da Aliança: os escolhidos do Senhor. Esse povo não tinha sido chamado a ser testemunha de unidade. Diante de toda essa situação, surgem os Profetas.


3. Desenvolvendo o tema

    - Quem é profeta?

     Profeta é um homem chamado por Deus, para:

  • transmitir ao povo a sua mensagem;
  • e falar em nome do Senhor.

É alguém do povo; alguém que participa bem perto dos dramas de seus patrícios, sobretudo dos mais fracos, oprimidos e marginalizados.

Profeta não significa aquele que anuncia os acontecimentos futuros, como adivinho. Ele não é um espécie de "mágico" que prevê o futuro. O profeta lê o presente. Ele possui o sentido da história; consegue captar, nas entrelinhas dos acontecimentos o Projeto que Deus tem para os homens; ele decifra, à luz da Palavra de Deus, os fatos do presente, e está sempre aberto ao futuro, à esperança; indica a vontade de Deus.

Profeta é alguém engajado, atento, presente, fiel; gente sem compromisso com o êxito, com o sucesso e com o poder constituído; vê por detrás das aparências dos acontecimentos.

O AT valoriza tanto os Profetas que seus escritos forma uma das partes da Bíblia.

A época dos Profetas começa no tempo dos Reis.

No AT o termo "Profeta" (em hebraico = NABI) quer dizer: "falar com força", "Falar com entusiasmo".



  • são aqueles que falam em seu próprio nome, sem terem sido enviados (Jr 14,14; 23,16;27,15).
  • são aqueles que seguem a própria vontade (Ez 13,3).



Como falamos, Profeta não é uma pessoa que prevê o futuro, mas uma pessoa que fala em nome de Deus.

Encontramos na Bíblia 18 Livros Proféticos:
     
- Isaías: É o maior profeta de Israel. Nasceu em Jerusalém por volta do ano 760 a.C. Com 20 anos começou a profetizar. Exerceu essa missão durante 50 anos. 
É o profeta da Justiça.

Isaías, proveniente de uma família nobre, era um homem de elevada cultura. A sua vocação profética teve início no ano da morte do rei Ozias e prolongou-se pelos reinados dos reis de Judá: Jotam, Acaz e Ezequias. Este foi um período muito conturbado, com ameaças permanentes de invasões dos assírios, babilônios e egípcios.

O livro de Isaías (classificado pela Bíblia Cristã como livro profético) é, juntamente com o dos Salmos, o mais citado no Novo Testamento. Este divide-se em três secções bastante distintas: Isaías I, Isaías II (ou Livro da Consolação) e Isaías III.

O livro do Profeta Isaías tem 66 capítulos. Ele está dividido em 3 partes. A segunda parte foi escrita no tempo em que o povo foi preso e levado para a Babilônia. No cativeiro é necessário animar o povo e conservar-se fiel. Isaías transmite ao povo descrente, um novo conceito de Deus: Deus único, Deus vencedor. Ele ama sua terra e seus irmãos, por isso ele encoraja o povo, dizendo que Deus não quer ver seu povo escravo de ninguém.

Isaías é chamado de “servo sofredor” porque assume a missão, mesmo com perseguição, calúnia, tentação, incompreensão e abandono dos amigos.Isaías também foi o profeta que anunciou a vinda de Jesus Cristo e a verdadeira libertação.


(Profeta Isaías)

- Jeremias: Nasceu no ano 650 a.C. Profetizou durante quarenta anos. Foi o profeta das desgraças. Predisse a deportação dos judeus. Jeremias lutou pela reforma religiosa de Israel.



(Profeta Jeremias)

- Lamentações: Composto nos anos após a destruição de Jerusalém, em 586 a.C. Contém orações, lamentações e súplicas. Este Livro era lido anualmente pelos judeus, no aniversário da destruição do Templo.

- Baruc: O profeta exorta o povo a fazer penitência. Baruc quer dizer “abençoado”. Foi secretário de Jeremias.


(Profeta Baruc)

- Ezequiel: Ezequiel quer dizer “aquele que Deus faz forte”.Exerceu sua função no meio dos judeus deportados para a Babilônia.


(Profeta Ezequiel)

- Daniel: O autor do Livro é desconhecido. Daniel é o nome do personagem ideal que sofre no exílio. Tem fé viva e ardor patriótico. Foi escrito durante a perseguição de Antíoco, entre 167-163 a.C. O autor pretende consolar e animar os que são perseguidos pelo rei.



(Profeta Daniel)

- Oséias: Exerceu seu ministério por volta do ano 750 a.C. Fala da infidelidade de Israel para com seu Deus, e compara a união de Deus com seu povo ao amor de um noivado. É o profeta da Ternura de Deus. É chamado de Profeta Menor.

Oséias vive em um período em que os poderosos estão muito bem. Por isso, não se importam em serem fiéis a Deus. O rei da época, Jeroboão, para conquistar mais o povo, deixa que entrem muitos ídolos no meio dele.



(Profeta Oséias)

O nome "Oséias" quer dizer "salvação". Como freqüentemente acontece nos livros dos profetas, o nome do autor combina perfeitamente com a sua mensagem. Oséias condena os pecados do povo, mas apresenta uma mensagem de esperança e perdão.

O livro de Oséias, talvez mais do que qualquer outro livro do Velho Testamento, expõe o coração de Deus. Oséias vive no próprio casamento o que Deus estava passando em relação a Israel. Os primeiros três capítulos descrevem a vida de Oséias. Ele se casa, mas a mulher dele se torna adúltera. Ele sofre com a infidelidade dela, mas ainda mostra a misericórdia para tomá-la de volta. Assim Deus viu a sua noiva, o povo de Israel, se envolvendo com "outros deuses", ou seja, cometendo adultério espiritual. Mesmo depois de tudo que Israel havia feito, Deus teria graça e misericórdia para reconciliar com esta esposa adúltera e estabelecer uma nova aliança com ela.

O povo pode ser infiel, esquecer-se da Aliança. Mas Deus não é assim. Ele sempre espera a volta daquele que errou. O profeta Oséias, na sua pregação, mostra o coração de Deus cheio de amor e ternura. Deus é como um marido que ama sem limites a sua esposa e cuida da família com todo carinho.

- Joel: Profetizou no reino de Judá e Jerusalém, onde nasceu. Fala do culto divino e do amor Divino. É chamado de Profeta Menor.

- Amós: Era camponês, de alma simples e fervorosa.Pastor de ovelhas nas proximidades de Belém. Profetizou durante o reinado de Jeroboão II. Amós condenou as injustiças sociais que massacraram a Samaria. É chamado de Profeta Menor.

- Abdias: Profetizou pelos anos 550 a.C. Anunciou castigos contra Edom e o triunfo de Israel no dia de Javé. É chamado de Profeta Menor.

- Jonas: O Livro deve ser uma espécie de parábola. Mostra que Deus chama à conversão, não somente os judeus, mas também os pagãos. É chamado de Profeta Menor.

(Profeta Jonas)

- Miquéias: Nasceu perto de Hebron. Anunciou a ruína da Samaria. Predisse que o Messias nasceria em Belém. É chamado de Profeta Menor.

- Naum: O profeta fala da grandeza de Deus e do poder com que o Criador governa o mundo. Alegra-se com a queda de Nínive, que se deu no ano 608 a.C. É chamado de Profeta Menor.

- Habacuc: Profetizou entre os anos 625 a 598 a.C. Predisse a invasão dos caldeus. Foi um profeta filósofo. Anunciou que Deus salvaria os justos e puniria os maus. É chamado de Profeta Menor.

- Sofonias: Profetizou no reinado de Josias pelo ano de 625 a.C. Predisse a justiça divina, anunciando o Dia de Deus, ocasião em que serão punidos todos os maus, pagãos ou judeus. Fala também da felicidade dos tempos messiânicos. É chamado de Profeta Menor.

- Ageu: Exerceu seu ministério em Jerusalém no ano de 520 a.C, quando era reconstruído o templo. Anima o povo com esperança dos tempos messiânicos. Ageu quer dizer “aquele que nasceu durante a festa” ou “peregrino”. É chamado de Profeta Menor.

- Zacarias: É contemporâneo de Ageu. Prega uma reforma moral e exorta o povo a reconstruir o templo. Fala da vinda do Messias e da conversão das nações. É chamado de Profeta Menor.



(Profeta Zacarias)

- Malaquias: Malaquias quer dizer “meu mensageiro” Fala do amor de Deus pelo seu povo. Denuncia as infidelidades do povo. É chamado de Profeta Menor.

Existiram quatro Profetas chamados de grandes ou maiores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Daniel; e treze chamados menores: Miqueias, Zacarias, Abdias, Malaquias, Baruc, Oseias, Joel, Amós, Jonas, Naum, Habacuc, Sofonias e Ageu. 

Eles são assim conhecidos pelo seu pequeno volume literário. A divisão em maiores e menores não quer dizer que os primeiros foram mais importantes, mas escreveram mais que os outros. O termo "maior" refere-se ao tamanho, não à importância. Os livros proféticos menos extensos são chamados "profetas menores". Também pode-se denominar como profetas "maiores" pelo tempo que duraram profetizando.


Aprofundamento:

Deus se manifesta aos seres humanos de diversos modos. Chamou Abraão, Isaac e Jacó. Aos poucos, Deus foi manifestando-se às pessoas, respeitando as suas realidades e limitações. No deserto, Deus conduziu, educou e provou o seu povo, ensinando-lhe  como devia a sua vontade. Agora, na Terra Prometida, Deus envia pessoas com a missão de anunciar a vontade de Deus e denunciar os seus erros e idolatrias (quando as pessoas buscam outros deuses). São os profetas.

O profeta é um crítico do rei, uma pessoa de profunda experiência de Deus e, também de uma profunda experiência da realidade do povo. O profeta sofria com a injustiça, a qual os pobres  eram acometidos. Por esses motivos, os profetas ajudavam o povo a conscientizarem-se da sua situação de opressão e falavam durante contra os poderosos. Eram eles que pediam ao povo que voltassem para Deus, que fossem fiéis à Aliança, lembrando-lhes que o caminho era seguir a Lei de Deus. Os profetas previam, também, dias melhores para todos se a injustiça fosse abolida.

O profeta vivia no meio do seu povo. O chamado de Deus era muito forte, como podemos ver em Samuel (cf. 1Sm 3,1-21). Esse grande profeta, ainda muito jovem, aceitou a missão que Deus lhe dava. Jeremias, Isaías, Ezequiel e outros também se sentiram chamados à vocação de profetas. Jeremias dizia: "seduziste-me, Senhor, e me deixei seduzir; lutaste comigo e me venceste" (cf. Jr 1,5-10.19). Antes mesmo de serem formados no ventre da mãe, Deus já os havia escolhido e consagrado (cf. Jr 1,5; Is 49,1-5).

Os profetas, quando se sentiam chamados, tinham medo da missão e tentavam se esquivar dela, porém o Senhor ia ao encontro deles e os ajudava. Deus deu uma missão a Jonas e ele fugiu de barco; houve uma grande tempestade e Jonas percebeu que era um sinal para ele e pediu que o jogassem no mar. Uma baleia o engoliu. No seio da baleia, Jonas rezou ao Senhor; depois de três dias, a baleia o vomitou perto de Nínive, local onde ele deveria anunciar o castigo de Deus, pelos pecados dos habitantes dessa cidade. O povo se converteu e fez penitência depois da pregação do profeta e Deus perdoou a cidade (cf. Jn 1-4).

O profeta falava em nome de Deus, denunciando o que estava errado e mostrando qual era a vontade de Deus. Ele estava atento  aos acontecimentos e procurava perceber quais eram os projetos de Deus para aquele momento e situação.

O profeta, para anunciar, usava a sua palavra e fazia gestos que facilitavam a compreensão da mensagem que tinham de transmitir. Deus manda Jeremias comprar uma bilha no oleiro e quebrá-la diante dos olhos dos que estivessem com ele, para anunciar a ira de Deus sobre o povo que se afastara de seus preceitos (cf. Jr 19,1.10).

O profeta anunciava com a sua própria vida. Deus manda que Oseias se case com uma mulher que se entregava à prostituição. Essa mulher era figura do povo de Israel que abandonava o Deus verdadeiro e saía em busca de outros ídolos. Cada filha que nascia  deste casamento era um sinal de Deus para o povo. Oseias é conhecido por anunciar o grande amor de Deus para com os homens. O amor de Deus pelos homens é mais forte do que o amor de uma mãe por seus filhos. Deus perdoa as infidelidades de seu povo, porque ele ama mais do que o esposo ama a sua esposa (cf. Os 11; Ez 16).

Elias, cujo nome significa "Deus é Javé", teve seu chamado para ser profeta em um dos piores períodos da história de Israel. Período este, marcado por crise, fome, miséria, corrupção e apostasia. Mas, em meio à crise, moral, social e espiritual, Deus pôde contar com a coragem e determinação de Elias, para ser seu porta-voz.

Vamos ouvir a história desse profeta de Deus:


4. História 

(1Rs 17; 1Rs 18-19; 2Rs 2) 

O tempo passou e muitos foram os reis que governaram Israel. Um desses reis foi Acab. Mas ele e sua família acabaram se afastando de Deus, e por isso o Senhor enviou um profeta chamado Elias para avisar ao rei: "Nestes anos, haverá uma grande seca na Terra, pois não choverá até que Deus mande." E Deus disse a Elias: "Saia daqui e vá se esconder perto do rio Jordão. Lá não lhe faltará nem água nem comida."

Elias fez tudo o que Deus havia mandado. E então as águas secaram, pois não chovia mais. Deus disse a Elias: "Pegue suas coisas e vá para Sarepta, na região de Sidônia, e fique morando lá. Porque eu mandarei uma viúva dar comida a você."

Elias novamente obedeceu e foi para Sarepta. Chegando lá, encontrou a viúva de que Deus havia falado e pediu para ela: "Por favor, me arranje um pouco de água para beber e pão para comer." A viúva respondeu: "Não tenho pão feito. O que eu tenho é farinha e azeite." E Elias disse: "Faça pão e traga para mim. Pois assim diz Deus: não faltará nem farinha nem azeite para você." A mulher fez tudo como Elias tinha mandado.

Mas o filho da viúva ficou doente e acabou morrendo. A viúva desconsolada, disse a Elias: "Não quero nada de você! Vá embora! Você veio para minha casa e meu filho morreu!" E Elias respondeu: "Traga aqui seu filho." Pegando o menino nos braços, Elias o levou até seu quarto.

No quarto, Elias deitou o menino na cama e chamou por Deus, dizendo: "Ó Deus, faça este menino voltar à vida." Deus atendeu o pedido de Elias e o menino voltou a viver. Elias pegou o menino, saiu do quarto e o entregou à mãe. A viúva disse a Elias: "Agora eu sei que você é um homem de Deus e que é verdade que você transmite a palavra do Senhor."

Muito tempo depois, no terceiro ano de seca, Deus falou para Elias: "Vá dizer ao rei Acab que vou mandar chuva sobre a Terra."

Elias partiu. Enquanto isso, o rei Acab chamou Abdias, que era o chefe do palácio, e falou: "Precisamos sair para procurar água." E eles foram andar pela região.

No caminho, Abdias e Elias se encontraram. O empregado do rei se ajoelhou diante de Elias e perguntou: "O Senhor não é Elias?" Elias respondeu: "Sou eu mesmo. Vá dizer ao seu patrão que Elias está aqui." E Abdias foi avisar o rei Acab.

Acab saiu ao encontro de Elias. Logo que o viu, disse: "Você é a destruição de Israel!" E Elias respondeu: "Não sou eu que estou destruindo Israel. É você e sua família, pois vocês abandonaram o Senhor para seguir outros deuses. Mande que todo o povo de Israel se reúna comigo no monte Carmelo." (Isso tudo porque o rei e sua família acreditavam em Baal, uma estátua de barro que adoravam como se fosse um deus).

Acab fez como Elias havia dito. Então, no monte Carmelo, o profeta Elias disse ao povo reunido: "Se Deus é o deus verdadeiro, sigam a Ele. Se for Baal, sigam. Vocês chamarão o deus de vocês e eu chamarei o meu Deus. Quem responder primeiro será o deus verdadeiro. Vamos colocar aqui dois montes de lenha e esperar que o deus verdadeiro mande o fogo".

Todos concordaram e começaram a dizer: "Baal, responda ao nosso chamado." Mas não se ouvia nenhuma voz e nenhuma resposta. E Elias começou a caçoar deles: "Gritem mais alto. Pode ser que Baal esteja ocupado, viajando, conversando ou até dormindo." Eles gritavam cada vez mais, porém nada acontecia.

Elias então chamou o povo. Pegou doze pedras, simbolizando cada tribo de Israel, e construiu um altar para Deus. Depois rezou: "Senhor, hoje todos irão saber quem é o Deus verdadeiro de Israel. Responda a mim  para que este povo reconheça o Senhor como Deus único e verdadeiro." E Deus mandou um raio, que pôs fogo na lenha. Ao verem isso, todos se ajoelharam, falando: "Este é o Deus verdadeiro de Israel."

Como o povo reconheceu o Deus verdadeiro, o Senhor perdoou o rei Acab por ter adorado a Baal e acabou com a grande seca. Elias disse a Acab: "Já posso até ouvir o barulho da chuva."

Depois disso, Deus falou para Elias: "Pegue o caminho em direção ao deserto de Damasco." E Elias partiu. Deus também revelou a Elias que seu sucessor como profeta seria um rapaz chamado Eliseu.

No caminho, Elias encontrou Eliseu cuidando de um rebanho de bois. Elias passou perto de Eliseu e jogou seu manto sobre ele (isso significava que Elias estava chamando Eliseu para ser seu discípulo). Eliseu não podia deixar de obedecer ao profeta do Senhor; então abandonou os bois e foi atrás de Elias. Mas pediu: "Deixe-me dizer adeus aos meus pais. Depois eu seguirei você." Elias respondeu: "Vá, mas volte logo."

Depois de se despedir de sua família, Eliseu passou a seguir Elias.

Assim, Eliseu tornou-se discípulo de Elias, junto com outros 50 profetas, que o seguiam por toda parte para aprender com eles. Certa vez, Elias foi até o rio Jordão com Eliseu e os profetas.

Os profetas ficaram a uma certa distância, enquanto os dois pararam à margem do rio. Então Elias pegou seu manto, enrolou-o e bateu com ele na água. A água se dividiu em duas partes e os dois passaram sem se molhar. Elias falou a seu discípulo: "Logo Deus irá me levar, então me peça o que você quer que eu faça por você antes de isso acontecer." Eliseu disse: "Deixe-me como herança uma parte do sue espírito." (Com isso, Eliseu estava deixando claro que queria ser reconhecido como principal herdeiro espiritual de Elias).

E, enquanto estavam andando e conversando, apareceu um carro de fogo com cavalos de fogo, que separou um do outro.





E Elias, no carro de fogo, subiu ao Céu em uma espécie de redemoinho. Eliseu pegou o manto de Elias, bateu com ele na água, que tornou a se dividir em duas partes. E ele atravessou o rio. Os profetas, ao verem Elias, disseram: "O espírito de Elias está sobre Eliseu."


Partilha:
  • Deus enviou um profeta para dar um aviso a um rei de Israel que, com sua família, abandonou o Senhor para seguir outros deuses. Qual o nome desse profeta? E o nome do rei?
  • Qual era o aviso?
  • O que aconteceu na casa da viúva de Sarepta?
  • Qual era o deus adorado pelo rei e sua família?
  • O que aconteceu no Monte Carmelo?
  • O que simbolizava as doze pedras que Elias usou para construir um altar para Deus no monte Carmelo?
  • Deus perdoou o rei Acab?
  • Já avisado por Deus sobre o seu sucessor, no caminho em direção ao Deserto de Damasco, Elias encontrou Eliseu. O que fez Elias? Que significava esse gesto?
  • Eliseu tornou-se discípulo de Elias, junto com outros 50 profetas, que o seguiam por toda parte. O que aconteceu com Elias, quando foi até o rio Jordão com Eliseu e seus profetas?
  • Depois, o que disse Elias a seu discípulo? O que Eliseu pediu?
  • Enquanto estavam andando e conversando, o que apareceu que separou um do outro?
  • O que aconteceu com Elias?
  • O que Eliseu fez com o manto de Elias?
  • Ao verem isso, o que disseram os profetas?

Conclusão:

A palavra do profeta era como uma espada afiada (cf. Is 49,2).

O profeta devia ser obediente à Palavra de Deus. Elias foi assim. Porém, perseguido e desanimado, foge para o deserto. Deus o alimenta e sacia sua sede; sustentado pelo alimento, caminha por quarenta dias até o Monte Horeb e lá se encontra com Deus (cf. 1Rs 19). O profeta, obediente. convoca os que o ouvem a obedecer. O profeta atesta a presença de Deus no meio dos homens. O profeta exige das pessoas uma decisão: "Somente ao teu adorarás e somente a Ele prestarás culto", e "não terás outros deuses diante de mim" (cf. Dt 6).

O profeta era uma pessoa de oração, ele tinha sempre Deus presente em sua vida e o contemplava (cf. 1Rs 19; Jr 1,4-10). Em todos os profetas podemos ler trechos de orações que dirigiam a Deus nos momentos de dúvida, de desânimo, de perseguição e ação de graças.

Os profetas eram perseguidos porque falavam a verdade e denunciavam as injustiças. Eles se colocavam ao lado dos injustiçados e oprimidos. Os profetas não conhecem a glória.  Isaías em seu capítulo 53 descreve a missão do Servo de Javé: aquele que termina sua missão como o cordeiro, se imolando em silêncio.

João Batista é o último profeta. Os profetas anunciaram o Messias. João Batista aponta o Messias e diz: "Eis o cordeiro de Deus" (cf. Jo 1,29). João Batista é o precursor (aquele que vem antes), foi enviado com a missão de preparar o caminho de Jesus, ele é o maior de todos os profetas, e deles é o último (cf. CIC, 523).




A vida e o ensinamento dos profetas se tornaram Palavra de Deus para os povos de ontem e de hoje. O próprio Jesus se inspirou muito nos profetas, sobretudo em Isaías para assumir sua missão.

Aquele que é chamado a ser profeta recebe  vocação, não em proveito próprio, mas ele é profeta para a comunidade. O profeta anuncia uma notícia e denuncia uma situação que oprime, que escraviza e que mata. Todos nós somos chamados a ser profetas, pelo Batismo.

Na nossa família, na comunidade, no bairro, na escola, em todo lugar onde estivermos  somos convidados a ser profetas. Procurar ver com os olhos de Jesus os acontecimentos, e procurar perceber os projetos de Deus para aquela situação. Ajudar os que estão perto de nós a enxergar com menos egoísmo e mais amor. Somos convidados a usar a nossa língua para anunciar a Palavra de Deus e denunciar aquilo que oprime, que esmaga os mais pequeninos.

No final da Missa, após a bênção, vamos embora. A missa terminou. A nossa missão tem início, missão de ser profeta. Missão de anunciar a Palavra de Deus que recebemos na celebração. Levar a bênção de Deus para os que não puderam estar na celebração. Não podemos guardar só para nós o que Deus  de graça nos dá: "de graça recebestes, de graça dai" (cf. Mt 10,8).

Gesto concreto: ser profeta, na família, na escola e na comunidade.

O profeta para ser profeta, primeiro escuta a Palavra de Deus para si mesmo.  O profeta tem um ouvido afinado e aberto. Ouvido aberto e olhos atentos para perceber a mensagem de Deus transmitida através dos acontecimentos e das pessoas que convivem com ele.
  • Como ser profeta hoje? O que precisa ser denunciado? O que devemos anunciar?
  • Evitar o preconceito, ajudar os que estão perto apontando novos caminhos.
  • Quais as pessoas que conhecemos e que são profetas, hoje?


5. Atividades

  • Dividir a turma em dois grupos.
  • Distribuir os 17 nomes dos livros proféticos para cada grupo, 01 cartolina e 01 tubo de cola. Os nomes devem estar recortados e fora de ordem.
  • Pedir aos catequizandos que os coloquem na ordem que encontramos na Bíblia, porém sem consultá-la, separando Profetas Maiores dos Profetas Menores. Certamente haverá dificuldade, observem os grupos e depois de algumas tentativas...                                                                                                                                   
  • Fale que agora eles podem consultar o índice bíblico. Os grupos devem colar na cartolina todos os nomes dos livros proféticos, observando a classificação.
  • A cartolina deverá estar com a identificação "Profetas Maiores" e "Profetas Menores" divididos por um traço. O grupo que terminar primeiro poderá ser premiado com balas, cartão etc. Observem se está correta a atividade de cada grupo.
  • Coloquem uma das cartolinas no quadro, parede ou em noutro material disponível e perguntem: Por que há a denominação Maiores e Menores?
  • Para concluir, questione:
            - Os Profetas Menores têm qualidade inferior?
            - Os Maiores são mais importantes?

  • Observe as respostas dos alunos e acrescente outras informações, caso necessário.



6. Oração Final e Encerramento


  • Leia o texto de Is 6,1-8.
  • Vamos memorizar a frase de prontidão que o Profeta Isaías proferiu a fim de que, cada um de nós se conscientize de que devemos estar sempre prontos a obedecer a Deus, pois ele só quer o nosso bem. Vamos repetir juntos: "Senhor, estou aqui, envia-me!"
  • Convidá-los a cantar ou ouvir: "Eis-me, aqui, Senhor!"
  • Finalizando: "Estivemos reunidos, em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Amém!"







Fontes:

  • Bíblia Sagrada
  • Catecismo da Igreja Católica
  • Livro do Catequista "Fé - Vida - Comunidade" - (Paulus)
  • Bíblia Sagrada para crianças (Ed. Canção Nova)
  • Livro "A Caminho da Eucaristia", de Maria de Lurdes M. Pincinato (Ed. Vozes)
  • Livro "Somos povo de Deus", do Pe. Orione Silva e Solange Maria do Carmo
  • Livro "Crescer em Comunhão" (Ed. Vozes)