“O que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou, Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Cor 2,9).
Professor Felipe Aquino
Fomos criados para o Céu. Ele é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva em Deus. São Paulo falava do Céu com grande alegria: “Nós somos cidadãos do Céu! É de lá que também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo. Ele transformará nosso corpo miserável, para que seja conforme o seu corpo glorioso, em virtude do poder que tem de submeter a si toda a criatura” (Fl 3,20-21).
“Tenho para mim que os sofrimentos da vida presente não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada” (Rom 8,18). “A nossa presente tribulação, momentânea e ligeira, produz em nós um peso eterno de glória incomensurável” (2 Cor 4,17).
Certa vez um jovem foi para a guerra; e lá recebeu de sua mãe um jornal de sua terra. Viu nele a foto de uma jovem que o encantou. Começou a se corresponder com ela; trocaram fotos e experiências, enamoraram-se um pelo outro, mesmo sem se conhecerem pessoalmente. O amor mútuo, mesmo à distância, os fez melhores, mais aplicados e bons, por amor ao outro. No coração de ambos cresceu o desejo de se encontrarem, se casarem, terem filhos, e viverem juntos para sempre.
A guerra acabou, ele voltou para casa. Na estação do trem ela o aguardava ansiosa; depois de dois anos de espera e de fidelidade. Quando o trem chegou, ele desembarcou e se abraçaram fazendo vibrar todas as fibras do corpo. Então, ele a tomou nos braços e lhe disse: “Ah! se este momento pudesse se tornar eterno!”
É a felicidade do amor alcançado e concretizado na posse da pessoa amada. Este é um exemplo imperfeito do que será o Céu.
São Francisco de Assis, pensando no céu, dizia: “É tão grande o bem que espero, que todo sofrimento me é um grande prazer”. Ele disse aos seus cinco mil frades: “Filhos meus... pequena é a pena desta vida, mas a glória da outra vida é infinita”.
Santa Maria Egípcia, após a sua maravilhosa conversão, viveu no deserto, por mais de cinquenta anos, na mais dura penitência.
Próximo da sua morte, São Zózimo lhe perguntou como ela pudera suportar, naquele lugar de horrores, uma vida tão austera. E a resposta foi essa: “Meu padre, com a esperança do Céu”!
A uma jovem que ia receber o hábito religioso no Convento, disse Santa Catarina de Gênova:
"Que a eternidade esteja em vosso espírito; o mundo sob os vossos pés; a Vontade de Deus em todas as vossas ações e que o Amor Divino brilhe em vosso coração!"
É o caminho da santidade e do Céu!
Como é o Céu?
Ninguém será capaz de descrever plenamente como é o Céu, pois é algo inefável, que não há palavras para explicar. São Paulo disse aos coríntios que “o que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64,4), tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam”. (1Cor 2,9).
Diz o nosso Catecismo que:
“Os que morrem na graça e na amizade de Deus, e que estão totalmente purificados, vivem para sempre com Cristo. São para sempre semelhantes a Deus, porque o veem “tal como ele é” (1Jo 3,2), face a face: (1Cor 13, 12; Ap 22,4)” (§1023).
Jesus deixou claro: “o meu Reino não é deste mundo” (Jo 18,36), e falou muito do Céu: “De que vale o homem ganhar o mundo inteiro se vier a perder a vida eterna” (Mc 18,36); “ajuntai tesouros no Céu onde a traça e o ladrão não entram…” (Mt 6,20); “os justos resplandecem no Céu” ( Mt 13, 43). Ao moço rico Jesus disse: “Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, e dá aos pobres, terás um tesouro no Céu” (Mt 18,21).
O Papa Bento XII (1334-1342), na Encíclica “Benedictus Deus” confirmou o Céu como dogma de fé e que lá já estão os santos:
“Com a nossa autoridade apostólica definimos que, segundo a disposição geral de Deus, as almas de todos os santos mortos antes da Paixão de Cristo (…) e de todos os outros fiéis mortos depois de receberem o santo Batismo de Cristo, nos quais não houve nada a purificar, quando morreram, (…) ou ainda, se houve ou há algo a purificar, quando, depois da sua morte, tiverem acabado de fazê-lo, (…) antes mesmo da ressurreição nos seus corpos e de juízo geral, e isto desde a ascensão do Senhor e Salvador Jesus Cristo ao Céu, estiveram, estão e estarão no Céu, no Reino dos Céus e no paraíso celeste com Cristo, admitidos na sociedade dos santo anjos. Desde a Paixão e a Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, viram e veem a essência divina com uma visão intuitiva e até face a face sem a mediação de nenhuma criatura” (LG 49).
O Papa Paulo VI, em 1967, e sua Profissão de Fé, O Credo do Povo de Deus, ratificou a realidade do Céu e a intercessão dos santos por nós:
“Cremos que a multidão daqueles que estão reunidos em torno de Jesus e de Maria no Paraíso forma a Igreja do Céu, onde na beatitude eterna vêem a Deus como Ele é, e onde estão também, em graus diversos, associados com os Santos Anjos ao governo divino exercido pelo Cristo na glória, intercedendo por nós e ajudando nossa fraqueza por sua solicitude fraterna ” (n. 29).
A grande força da Igreja nesses vinte séculos, que a fez vencer todas as formas de perseguição e tribulação, foi a certeza do Céu; a Igreja sabe que a eternidade lhe pertence; por isso não se desespera nunca com as mazelas deste mundo. Santa Maria Egípcia, após a sua maravilhosa conversão, viveu no deserto, por mais de cinquenta anos, na mais dura penitência. Próximo da sua morte, São Zózimo lhe perguntou como ela pudera suportar, naquele lugar de horrores, uma vida tão austera. E a resposta foi essa: “Meu padre, com a esperança do Céu!”
É essa “esperança do Céu” que precisa ser ressemeada sobre a terra. Para muitos o Céu já nem existe mais… Que tristeza! Mas como é o Céu?
O Catecismo nos ensina muitas coisas:
“Essa vida perfeita com a Santíssima Trindade, essa comunhão de vida e de amor com Ela, com a Virgem Maria, os Anjos e todos os Bem aventurados, é denominada “o Céu”. O Céu é o fim último e a realização das aspirações mais profundas do homem, o estado de felicidade suprema e definitiva. Viver no Céu é “viver com Cristo” (Jo 14, 3; Fl 1,23; 1Ts 4, 17). Os eleitos vivem “nele”, mas lá conservam – ou melhor, lá encontram - sua verdadeira identidade, seu nome próprio (Ap 2, 17). Por sua morte e Ressurreição Jesus Cristo nos “abriu” o Céu. A vida dos bem-aventurados consiste na posse em plenitude dos frutos da redenção operada por Cristo, que associou à sua glorificação celeste os que creram nele e ficaram fiéis à sua vontade. O céu é a comunidade bem-aventurada de todos os que estão perfeitamente incorporados a Ele.” (§1024-1028)
A Igreja ensina que na glória do Céu os bem-aventurados continuam a cumprir com alegria a vontade de Deus em relação aos outros homens e à criação inteira. Já reinam com Cristo; “com Ele reinarão pelos séculos dos séculos. (Ap 22,5; Mt 25, 21. 23)
Na Oração Sacerdotal Jesus disse: “Ora, a vida eterna consiste em que conheçam a Ti, um só Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo que enviaste.” (Jo 17, 3). Esta é uma excelente referência de como será o Céu: um conhecimento contínuo de Deus; e, como Deus é infinito, este conhecimento também o será, por toda a eternidade. No Céu não haverá fastio, não nos cansaremos de contemplar a cada instante a Face de Deus que sempre nos será nova. E o louvor, então, naturalmente, será incessante diante das maravilhas de Deus.
Alguns perguntam se no Céu veremos os nossos entes queridos; São Tomás de Aquino, responde: “A contemplação da Essência divina não absorve os santos de maneira a impedir-lhes a percepção das coisas sensíveis, a contemplação das criaturas e a sua própria ação. Reciprocamente, essa percepção, essa contemplação e essa ação não os podem distrair da visão beatífica de Deus. Assim era em relação a Nosso Senhor aqui na terra” (Suma Teológica 30,84).
Disse Santo Agostinho, na “Cidade de Deus”, diz que os bem-aventurados “formarão uma cidade, onde terão todos uma só alma e um só coração, de tal sorte que, na perfeição dessa unidade, os pensamentos de cada um não serão ocultos aos outros”.
São Francisco Xavier, lá das Índias, escrevia a Santo Inácio de Loyola, seu pai espiritual: “Dizeis, no excesso de vossa amizade por mim, que desejareis ardentemente ver-me ainda uma vez antes de morrer. De fato, não nos tornaremos a ver na terra senão por meio de cartas. Mas no Céu, ah! se-lo-á face a face! E então como nos abraçaremos!” (Cartas de São Francisco Xavier, 93, nº 3).
Prof. Felipe Aquino
ANGELUS
Solenidade de Todos os Santos
Praça São Pedro – Vaticano
Sexta-feira, 1º de novembro de 2013
Solenidade de Todos os Santos
Praça São Pedro – Vaticano
Sexta-feira, 1º de novembro de 2013
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
A festa de Todos os Santos, que hoje celebramos, recorda-nos que o objetivo da nossa existência não é a morte, é o Paraíso! Escreve isso o apóstolo João: “Não se manifestou ainda o que havemos de ser. Sabemos que, quando isso se manifestar, seremos semelhantes a Deus, porquanto o veremos como ele é” (1 Jo 3, 2). Os santos, os amigos de Deus, asseguram-nos que esta promessa não decepciona. Em sua existência terrena, de fato, viveram em comunhão profunda com Deus. Na face dos irmãos menores e desprezados viram a face de Deus, e agora o contemplam face a face na sua beleza gloriosa.
Os santos não são super-homens, nem nasceram perfeitos. São como nós, como cada um de nós, são pessoas que antes de atingir a glória do céu viveram uma vida normal, com glórias e dores, cansaços e esperanças. Mas o que mudou suas vidas? Quando conheceram o amor de Deus, seguiram-no com todo o coração, sem condições e hipocrisias; passaram a vida ao serviço dos outros, suportaram sofrimentos e adversidades sem odiar e respondendo ao mal com o bem, difundindo alegria e paz. Esta é a vida dos santos: pessoas que pelo amor de Deus em suas vidas não colocaram condições a Ele; não foram hipócritas; passaram suas vidas a serviço dos outros para servir o próximo; sofreram tantas adversidades, mas sem odiar. Os santos nunca odiaram. Entendam bem isto: o amor é de Deus, mas o ódio de quem vem? O ódio não vem de Deus, mas do diabo! E os santos se afastaram do diabo; os santos são homens e mulheres que têm a alegria no coração e a transmitem aos outros. Nunca odiar, mas servir os outros, os mais necessitados; rezar e viver na alegria; este é o caminho da santidade!
Ser santos não é um privilégio de poucos, como se alguém tivesse uma grande herança; todos nós, no Batismo, temos a hereditariedade de poder nos tornarmos santos. A santidade é uma vocação para todos. Todos, por isso, somos chamados a caminhar no caminho da santidade, e este caminho tem um nome, uma face: a face de Jesus Cristo. Ele nos ensina a nos tornarmos santos. Ele, no Evangelho, nos mostra o caminho: aquele das Bem-Aventuranças (cfr Mt 5, 1-12). O Reino dos céus, de fato, é para quantos não colocam a sua segurança nas coisas, mas no amor de Deus; para quantos têm um coração simples, humilde, não deixam de ser justos e não julgam os outros, quantos sabem sofrer com quem sofre e alegrar-se com quem se alegra, não são violentos, mas misericordiosos e procurar ser artífices de reconciliação e de paz. O santo, a santa é artífice de reconciliação e de paz; ajuda sempre o povo a reconciliar-se e ajuda sempre a fim de que haja paz. E assim é bela a santidade; é um belo caminho!
Hoje, nesta festa, os santos nos dão uma mensagem. Dizem-nos: confiem no Senhor, porque o Senhor não decepciona! Não decepciona nunca, é um bom amigo, sempre ao nosso lado. Com os seus testemunhos, os santos nos encorajam a não ter medo de andar contracorrente ou de ser incompreendido e ridicularizado quando falamos Dele e do Evangelho; demonstram-nos com a sua vida que quem permanece fiel a Deus e à sua Palavra experimenta já nesta terra o conforto do seu amor e depois “cem vezes mais” na eternidade. Isto é o que esperamos e pedimos ao Senhor para os nossos irmãos e irmãs falecidos. Com sabedoria, a Igreja colocou em dias próximos a festa de Todos os Santos e a Comemoração de todos os fiéis falecidos. À nossa oração de louvor a Deus e de veneração dos espíritos beatos se une a oração de sufrágio por quantos nos precederam na passagem deste mundo à vida eterna.
Confiemos a nossa oração à intercessão de Maria, Rainha de Todos os Santos.
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