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domingo, 15 de junho de 2014

Catequese do Papa sobre os Dons do Espírito Santo










Catequese do dia 9 de abril de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
Iniciamos hoje um ciclo de catequeses sobre os dons do Espírito Santo. Vocês sabem que o Espírito Santo constitui a alma, a seiva vital da Igreja e de cada cristão: é o amor de Deus que faz do nosso coração a sua morada e entra em comunhão conosco. O Espírito Santo está sempre conosco, está sempre em nós, no nosso coração.





O próprio Espírito é “o dom de Deus” por excelência (cfr Jo 4, 10), é um presente de Deus e à sua volta comunica a quem o acolhe diversos dons espirituais. A Igreja identifica sete, número que simbolicamente diz plenitude, completude; são aqueles que se aprendem quando nos preparamos ao sacramento da Confirmação e que invocamos na antiga oração chamada “Sequência ao Espírito Santo”. Os dons do Espírito Santo são: sabedoria, entendimento, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor a Deus







1 - DOM DA SABEDORIA


O primeiro dom do Espírito Santo, segundo este elenco, é então a sabedoria. Mas não se trata simplesmente da sabedoria humana, que é fruto do conhecimento e da experiência. Na Bíblia conta-se que Salomão, no momento da sua coroação como rei de Israel, tinha pedido o dom da sabedoria (cfr 1 Re 3, 9). E a sabedoria é justamente isso: é a graça de poder ver cada coisa com os olhos de Deus. É simplesmente isso: é ver o mundo, ver as situações, as conjunturas, os problemas, tudo, com os olhos de Deus. Esta é a sabedoria. Algumas vezes vemos as coisas segundo o nosso prazer ou segundo a situação do nosso coração, com amor ou com ódio, com inveja… Não, estes não são os olhos de Deus. A sabedoria é aquilo que faz o Espírito Santo em nós a fim de que nós vejamos todas as coisas com os olhos de Deus. É este o dom da sabedoria.
E obviamente isto deriva da intimidade com Deus, da relação íntima que nós temos com Deus, da relação de filhos com o Pai. E o Espírito Santo, quando nós temos esta relação, nos dá o dom da sabedoria. Quando estamos em comunhão com o Senhor, é como se o Espírito Santo transfigurasse o nosso coração e o fizesse perceber todo o seu calor e a sua predileção.
O Espírito Santo torna ainda o cristão “sábio”. Isto, porém, não no sentido de que tem uma resposta para cada coisa, que sabe tudo, mas no sentido de que “sabe” de Deus, sabe como Deus age, conhece quando uma coisa é de Deus e quando não é de Deus; tem esta sabedoria que Deus dá aos nossos corações. O coração do homem sábio neste sentido tem o gosto e o sabor de Deus. E quão importante é que nas nossas comunidades haja cristãos assim! Tudo neles fala de Deus e se torna um sinal belo e vivo da sua presença e do seu amor. E isto é uma coisa que não podemos improvisar, que não podemos procurar por nós mesmos: é um dom que Deus faz àqueles que se tornam dóceis ao Espírito Santo. Nós temos dentro de nós, no nosso coração, o Espírito Santo; podemos escutá-Lo, podemos não escutá-Lo. Se nós escutamos o Espírito Santo, Ele nos ensina esta via da sabedoria, presenteia-nos com a sabedoria que é ver com os olhos de Deus, ouvir com os ouvidos de Deus, amar com o coração de Deus, julgar as coisas com o juízo de Deus. Esta é a sabedoria que nos dá o Espírito Santo e todos nós podemos tê-la. Somente devemos pedi-la ao Espírito Santo.
Pensem em uma mãe, em sua casa, com as crianças que, quando uma faz uma coisa, a outra pensa em outra, e a pobre mãe vai de um lado a outro, com os problemas das crianças. E quando as mães se cansam e gritam com as crianças, isto é sabedoria? Repreender as crianças – pergunto-vos – é sabedoria? O que vocês dizem: é sabedoria ou não? Não! Em vez disso, quando a mãe pega a criança e a repreende docemente e lhe diz: ‘Isto não se faz por isso…’ e lhe explica com tanta paciência, isto é sabedoria de Deus? Sim! É aquilo que nos dá o Espírito Santo na vida! Depois, no matrimônio, por exemplo, os dois esposos – o esposo e a esposa – brigam e depois não se olham ou se o fazem é com a cara amarrada: isto é sabedoria de Deus? Não! Em vez disso, se diz: ‘Bem, a tempestade passou, façamos as pazes’, e recomeçam a seguir adiante em paz: isto é sabedoria? [o povo: Sim!] Sim, este é o dom da sabedoria. Que esteja casa, que esteja com as crianças, que esteja com todos nós!
E isto não se aprende: isto é um presente do Espírito Santo. Por isto, devemos pedir ao Senhor que nos dê o Espírito Santo e nos dê o dom da sabedoria, daquela sabedoria de Deus que nos ensina a olhar com os olhos de Deus, a ouvir com o coração de Deus, a falar com as palavras de Deus. E assim, com esta sabedoria, vamos adiante, construímos a família, construímos a Igreja e todos nos santificamos. Peçamos hoje a graça da sabedoria. E peçamos à Nossa Senhora, que é a sede da sabedoria, este dom: que Ela nos dê esta graça. Obrigado!




2 - DOM DO ENTENDIMENTO


Catequese de  30 de abril de 2014
Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia
Depois de ter falado da sabedoria, como primeiro dos sete dons do Espírito Santo, hoje gostaria de colocar a atenção sobre o segundo dom, isso é, o entendimento. Não se trata daquela inteligência humana, da capacidade intelectual de que podemos ser mais ou menos dotados.  É, em vez disso, uma graça que só o Espírito Santo pode infundir e que suscita no cristão a capacidade de ir além do aspecto externo da realidade e perscrutar as profundezas do pensamento de Deus e do seu plano de salvação.
O apóstolo Paulo, dirigindo-se à comunidade de Corinto, descreve bem os efeitos deste dom – isso é, o que faz o dom do entendimento em nós – e Paulo diz isso: “Coisas que os olhos não viram, nem os ouvidos ouviram, nem o coração humano imaginou (Is 64, 4) tais são os bens que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Todavia, Deus no-las revelou pelo seu Espírito” (1 Cor 2,9-10). Isso obviamente não significa que um cristão possa compreender cada coisa e ter uma plena consciência dos planos de Deus: tudo isso permanece à espera de manifestar-se em toda a sua clareza quando nos encontrarmos diante dos olhos de Deus e formos realmente uma só coisa com Ele. Porém, como sugere a própria palavra, a inteligência permite “intus legere”, isso é, de “ler por dentro”: este dom nos faz entender as coisas como Deus as entende, com a inteligência de Deus. Porque uma pessoa pode entender uma situação com a inteligência humana, com prudência, e tudo bem. Mas entender uma situação em profundidade, como a entende Deus, é o efeito deste dom. E Jesus quis enviar-nos o Espírito Santo para que nós tenhamos este dom, para que todos nós possamos entender as coisas como Deus as entende, com a inteligência de Deus. É um belo presente que o Senhor deu a todos nós. É o dom com o qual o Espírito Santo nos introduz na intimidade com Deus e nos torna participantes do plano de amor que Ele tem conosco.
É claro, então, que o dom da inteligência está estreitamente conectado à fé. Quando o Espírito Santo habita o nosso coração e ilumina a nossa mente, faz-nos crescer dia após dia na compreensão daquilo que o Senhor disse e realizou. O próprio Jesus disse aos seus discípulos: eu vos enviarei o Espírito Santo e Ele vos fará entender tudo aquilo que eu vos ensinei. Entender os ensinamentos de Jesus, entender a sua Palavra, entender o Evangelho, entender a Palavra de Deus. Alguém pode ler o Evangelho e entender alguma coisa, mas se nós lemos o Evangelho com este dom do Espírito Santo podemos entender a profundidade das palavras de Deus. E isto é um grande dom, um grande dom que todos nós devemos pedir e pedir juntos: Dai-nos, Senhor, o dom do entendimento.
Há um episódio do Evangelho de Lucas que exprime muito bem a profundidade e a força deste dom. Depois de ter visto a morte na cruz e o sepultamento de Jesus, dois de seus discípulos, desiludidos e tristes, vão a Jerusalém e retornam ao vilarejo de nome Emaús. Enquanto estão a caminho, Jesus ressuscitado se aproxima e começa a falar com eles, mas os seus olhos, velados pela tristeza e pelo desespero, não são capazes de reconhecê-Lo. Jesus caminha com eles, mas eles estão tão tristes, tão desesperados, que não O reconhecem. Quando, porém, o Senhor explica a eles as Escrituras, para que compreendessem que Ele deveria sofrer e morrer e depois ressuscitar, as suas mentes se abrem e nos seus corações se reacende a esperança (cfr Lc 24, 13-27). E isto é o que faz o Espírito Santo conosco: abre-nos a mente, abre-nos para entender melhor, para entender melhor as coisas de Deus, as coisas humanas, as situações, todas as coisas. É importante o dom do entendimento para a nossa vida cristã. Peçamos esse dom ao Senhor, que nos dê, que dê a todos nós este dom para entender, como Ele entende, as coisas que acontecem e para entender, sobretudo, a Palavra de Deus no Evangelho. Obrigado.






3 - DOM DO CONSELHO


Catequese dia 07/05/2015
Para cerca de 60 mil fiéis, na Praça São Pedro, Francisco explicou importância do dom do conselho para seguir o caminho de Deus

Dando sequência ao ciclo de catequeses sobre os dons do Espírito Santo, Papa Francisco falou sobre o dom do conselho na catequese desta quarta-feira, 7. Ele destacou que esse dom torna o homem capaz de fazer a escolha certa, no dia a dia, seguindo a lógica de Jesus e do Seu Evangelho.
Cerca de 60 mil peregrinos estiveram na Praça São Pedro para a audiência geral com o Santo Padre, que destacou a importância desse dom para a comunhão entre Deus e o homem. “O conselho é o dom com o qual o Espírito Santo torna a nossa consciência capaz de fazer uma escolha concreta em comunhão com Deus. Ele nos torna sensíveis à sua voz e orienta os nossos pensamentos, fazendo-nos, assim, crescer interiormente, para não nos deixar agir à mercê do egoísmo e do próprio modo de ver as coisas”.
Para que isso aconteça, Francisco disse ser essencial a oração, pois é ela que faz com que o homem seja dócil à voz de Deus. Dessa forma, deixa-se de lado a lógica pessoal, cheia de limitações, para amadurecer uma sintonia profunda com o Espírito.
“Sempre voltamos ao mesmo ponto. A oração. Rezar é tão importante!”, disse Francisco, afirmando que é preciso rezar não somente as orações que se aprende quando criança, mas também usando as palavras, pedindo ajuda e conselho.
Como todos os outros dons do Espírito, também o conselho constitui um tesouro para toda a comunidade cristã, explicou o Papa. Isso porque é possível escutar a voz de Deus por meio dos irmãos. “É um grande dom poder contar com homens e mulheres que nos ajudam a reconhecer a vontade de Deus na nossa vida!”.
Francisco deu um exemplo de como esse dom funciona na prática, citando uma experiência que teve no confessionário do Santuário de Lujan, na Argentina. Nessa ocasião, havia, na fila, um rapaz que confessou um grande problema. Ele disse que estava, ali, porque sua mãe o havia aconselhado a pedir ajuda a Nossa Senhora.
“Eis uma mulher que tinha o dom do conselho! Não sabia encontrar uma saída para o problema do filho, mas indicou o caminho justo: ‘Vá a Nossa Senhora e ela lhe dirá o que fazer’. Este é o dom do conselho. Não dizer: ‘Mas, isto…’. Deixar que o Espírito Santo fale”.
O Santo Padre destacou que aquela mulher simples deu ao filho o verdadeiro conselho, pois, olhando para Nossa Senhora, o rapaz entendeu o que deveria fazer. “Este é o dom do conselho. Vocês, mães, que têm este dom, peçam-no para seus filhos: aconselhar os filhos é um dom de Deus.”







4 - DOM DA FORTALEZA


Vaticano, 14 Mai. 14 / 11:15 am (ACI).- Na Catequese desta quarta-feira, 14 de maio, o Papa falou sobre o dom da Fortaleza e explicou que este não é apenas um recurso que pedimos a Deus quando necessitamos para algo específico, e sim um dom que devemos pedir para todas as ocasiões do quotidiano tendo em conta o que diz São Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4, 13). O Papa afirmou ainda que a fortaleza é um dom que Deus não deixa faltar. “O Senhor não nos dá uma prova maior do que podemos tolerar”, disse o Santo Padre.
A seguir, a catequese completa do Santo Padre:

“Refletimos nas catequeses passadas sobre os primeiros três dons do Espírito Santo: a sabedoria, o entendimento e o conselho. Hoje pensemos naquilo que o Senhor faz: Ele vem sempre para nos apoiar na nossa fraqueza e faz isto com um dom especial: o dom da fortaleza.

Há uma parábola, contada por Jesus, que nos ajuda a acolher a importância deste dom. Um semeador sai para semear; nem toda a semente que espalha, porém, dá fruto. Aquilo que acaba pelo caminho é comido pelos pássaros; aquilo que cai em terreno rochoso ou em meio a espinhos semeia, mas logo é secado pelo sol ou sufocado pelos espinhos. Somente aquilo que termina em terreno bom pode crescer e dar fruto (cfr Mc 4, 3-9 // Mt 13, 3-9 // Lc 8, 4-8). Como o próprio Jesus explica aos seus discípulos, este semeador representa o Pai, que espalha abundantemente a semente da sua Palavra. A semente, porém, muitas vezes encontra a aridez do nosso coração e, mesmo quando é acolhida, corre o risco de permanecer estéril. Com o dom da fortaleza, em vez disso, o Espírito Santo liberta o terreno do nosso coração, liberta-o do torpor, das incertezas e de todos os nossos medos que possam impedi-Lo, de modo que a Palavra do Senhor seja colocada em prática, de modo autêntico e alegre. É uma verdadeira ajuda este dom da fortaleza, dá-nos força, liberta-nos também de tantos impedimentos.
Há também momentos difíceis e situações extremas nas quais o dom da fortaleza se manifesta de modo extraordinário, exemplar. É o caso daqueles que se encontram diante de experiências particularmente duras e dolorosas, que perturbam suas vidas e de seus entes queridos. A Igreja resplandece com o testemunho de tantos irmãos e irmãs que não hesitaram em dar a própria vida para permanecerem fiéis ao Senhor e ao seu Evangelho. Mesmo hoje não faltam cristãos que em tantas partes do mundo continuam a celebrar e a testemunhar a sua fé, com profunda convicção e serenidade, e resistem mesmo quando sabem que isso pode comportar um preço mais alto. Também nós, todos nós, conhecemos pessoas que viveram situações difíceis, tantas dores. Pensemos naqueles homens, naquelas mulheres que levam uma vida difícil, lutam para levar adiante a família e educar os filhos: fazem tudo isso porque há o espírito de fortaleza que os ajuda. Quantos homens e mulheres – nós não sabemos seus nomes – que honram nosso povo, nossa Igreja, porque são fortes: fortes em levar adiante sua vida, sua família, seu trabalho, sua fé. Estes nossos irmãos e irmãs são santos, santos no cotidiano, santos escondidos em meio a nós: têm justamente o dom da fortaleza para poder levar adiante o seu dever de pessoas, de pais, de mães, de irmãos, de irmãs, de cidadãos. Temos tantos! Agradeçamos ao Senhor por estes cristãos que são de uma santidade escondida: é o Espírito Santo que têm dentro que os leva adiante! E nos fará bem pensar nessas pessoas: se elas fazem tudo isso, se elas podem fazê-lo, por que não eu? E nos fará bem também pedir ao Senhor que nos dê o dom da fortaleza.
Não é preciso pensar que o dom da fortaleza seja necessário somente em algumas ocasiões, ou em situações particulares. Este dom deve constituir um pano de fundo do nosso ser cristão, na ordinariedade da nossa vida cotidiana. Como disse, em todos os dias da vida cotidiana devemos ser fortes, temos necessidade desta fortaleza, para levar adiante a nossa vida, a nossa família, a nossa fé. O apóstolo Paulo disse uma frase que nos fará bem ouvir: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fil 4, 13). Quando enfrentamos a vida ordinária, quando vêm as dificuldades, recordemos isto: “Tudo posso naquele que me fortalece”. O Senhor nos dá a força, sempre, não a deixa faltar. O Senhor não nos dá uma prova maior do que podemos tolerar. Ele está sempre conosco. “Tudo posso naquele me fortalece”.
Queridos amigos, às vezes podemos ser tentados a nos deixar levar pela preguiça ou, pior, pelo desânimo, sobretudo diante dos cansaços e das provações da vida. Nestes casos, não vamos desanimar, invoquemos o Espírito Santo para que, com o dom da fortaleza, possa aliviar o nosso coração e comunicar nova força e entusiasmo na nossa vida e no nosso seguimento a Jesus”. 




5 - DOM DA CIÊNCIA


Vaticano, 21 Mai. 14 / 12:00 pm (ACI/EWTN Noticias).- Na Audiência Geral desta quarta-feira, o Papa Francisco continuou sua catequese sobre os dons do Espírito Santo, abordando nesta ocasião o dom da ciência, o qual, afirmou, ajuda a perceber a grandeza de Deus através da criação e ensina a custodiar este presente para o benefício de todos e não cair em algumas atitudes excessivas ou equivocadas que levem a sua destruição.
Ante os milhares de fiéis congregados na Praça de São Pedro, o Papa esclareceu que este dom não se limita ao conhecimento humano da natureza. “Quando os nossos olhos são iluminados pelo Espírito, abrem-se à contemplação de Deus, na beleza da natureza e na grandiosidade do cosmo, e nos levam a descobrir como cada coisa nos fala Dele e do seu amor”.

A seguir a catequese do Papa na íntegra:

Queridos irmãos e irmãs, bom dia

Hoje gostaria de destacar outro dom do Espírito Santo, o dom da ciência. Quando se fala de ciência, o pensamento vai imediatamente à capacidade do homem de conhecer sempre melhor a realidade que o cerca e de descobrir as leis que regulam a natureza e o universo. A ciência que vem do Espírito Santo, porém, não se limita ao conhecimento humano: é um dom especial, que nos leva a entender, através da criação, a grandeza e o amor de Deus e a sua relação profunda com cada criatura.

Quando os nossos olhos são iluminados pelo Espírito, abrem-se à contemplação de Deus, na beleza da natureza e na grandiosidade do cosmo, e nos levam a descobrir como cada coisa nos fala Dele e do seu amor. Tudo isto suscita em nós grande admiração e um profundo sentido de gratidão! É a sensação que experimentamos também quando admiramos uma obra de arte ou qualquer outra maravilha que seja fruto da invenção e da criatividade do homem: diante de tudo isso, o Espírito nos leva a louvar o Senhor do fundo do nosso coração e a reconhecer, em tudo aquilo que temos e somos, um dom inestimável de Deus e um sinal do seu infinito amor por nós.

No primeiro capítulo do Gênesis, propriamente no início de toda a Bíblia, coloca-se em evidência que Deus se alegra com a sua criação, destacando repetidamente a beleza e a bondade de cada coisa. Ao término de cada dia, está escrito: “Deus viu que era coisa boa” (1, 12. 18. 21. 25): se Deus vê que a criação é uma coisa boa, é uma coisa bela, também nós devemos assumir esta atitude e ver que a criação é coisa boa e bela. Eis o dom da ciência que nos faz ver esta beleza, portanto louvamos a Deus agradecendo-lhe por ter nos dado tanta beleza. E quando Deus terminou de criar o homem não disse “viu que era coisa boa”, mas disse que era “muito boa” (v. 31). Aos olhos de Deus nós somos a coisa mais bela, grande, boa da criação: mesmo os anjos estão abaixo de nós, nós somos mais que os anjos, como ouvimos no livro dos Salmos. O Senhor nos quer bem! Devemos agradecer a Ele por isto. O dom da ciência nos coloca em profunda sintonia com o Criador e nos faz participar da clareza do seu olhar e do seu juízo. É nesta perspectiva que conseguimos entender no homem e na mulher o vértice da criação, como cumprimento de um projeto de amor que está impresso em cada um de nós e que nos faz reconhecer como irmãos e irmãs.

Tudo isto é motivo de serenidade e de paz e faz do cristão um testemunho alegre de Deus, nos passos de São Francisco de Assis e de tantos santos que souberam louvar e cantar o seu amor através da contemplação da criação. Ao mesmo tempo, porém, o dom da ciência nos ajuda a não cair em algumas atitudes excessivas ou erradas. A primeira é constituída pelo risco de nos considerarmos donos da criação. A criação não é uma propriedade, na qual podemos mandar de acordo com a nossa vontade; nem, tão pouco, é uma propriedade somente de alguns, de poucos: a criação é um presente, é um presente maravilhoso de Deus que nos deu para que cuidemos dela e a utilizemos em benefício de todos, sempre com grande respeito e gratidão. A segunda atitude errada é representada pela tentação de nos pararmos nas criaturas, como se estas pudessem oferecer a resposta a todas as nossas expectativas. Com o dom da ciência, o Espírito nos ajuda a não cair neste erro.

Mas gostaria de retornar ao primeiro caminho errado: dominar a criação em vez de protegê-la. Devemos proteger a criação porque é um presente que o Senhor nos deu, é um presente de Deus para nós; nós somos guardiães da criação. Quando nós exploramos a criação, destruímos o sinal do amor de Deus. Destruir a criação é dizer a Deus: “não gosto”. E isto não é bom: eis o pecado.

A proteção da criação é justamente a proteção do presente de Deus e é dizer a Deus: “obrigado, eu sou o guardião da criação, mas para fazê-la progredir, nunca para destruir o teu presente”.

Esta deve ser a nossa atitude diante da criação: protegê-la, porque se nós destruímos a criação, a criação nos destruirá! Não se esqueçam disso. Uma vez eu estava no campo e ouvi um dito de uma pessoa simples, que gostava tanto das flores e cuidava delas. Disse-me: “Devemos proteger estas coisas belas que Deus nos deu; a criação é para nós a fim de que nós a aproveitemos bem; não explorar, mas protegê-la, porque Deus perdoa sempre, nós homens perdoamos algumas vezes, mas a criação não perdoa jamais e se você não a protege ela te destruirá”.

Isto deve nos fazer pensar e pedir ao Espírito Santo o dom, o dom da ciência para entender bem que a criação é o mais belo presente de Deus. Ele fez tantas coisas boas para a melhor coisa que é a pessoa humana.





6 - DOM DA PIEDADE



Nesta quarta-feira, 4, o Papa Francisco retomou sua catequese sobre os dons do Espírito Santo. Desta vez, ele falou sobre a piedade. Segundo ele, este é um dom que, muitas vezes, é incompreendido ou considerado de modo superficial.
Cerca de 40 mil fiéis lotaram a Praça São Pedro, esta manhã, para a Audiência Geral. Francisco logo esclareceu que o dom da piedade não se identifica com o sentimento de compaixão por alguém, mas indica a pertença a Deus e o elo profundo com Ele, um elo que dá sentido à vida. 

Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia,
Hoje queremos nos concentrar em um dom do Espírito Santo que tantas vezes é mal entendido ou considerado de modo superficial, e em vez disso toca no coração a nossa identidade e a nossa vida cristã: trata-se do dom da piedade.
É preciso esclarecer logo que este dom não se identifica com ter compaixão de alguém, ter piedade do próximo, mas indica a nossa pertença a Deus e a nossa ligação profunda com Ele, uma ligação que dá sentido a toda a nossa vida e que nos mantém sadios, em comunhão com Ele, mesmo nos momentos mais difíceis e conturbados.
Esta ligação com o Senhor não deve ser entendida como um dever ou uma imposição. É uma ligação que vem de dentro. Trata-se de uma relação vivida com coração: é a nossa amizade com Deus, dada a nós por Jesus, uma amizade que muda a nossa vida e nos enche de entusiasmo, de alegria. Por isso, o dom da piedade suscita em nós antes de tudo a gratidão e o louvor. É este, na verdade, o motivo e o sentido mais autêntico do nosso culto e da nossa adoração. Quando o Espírito Santo nos faz perceber a presença do Senhor e todo o seu amor por nós, aquece-nos o coração e nos move quase naturalmente à oração e à celebração. Piedade, então, é sinônimo de autêntico espírito religioso, de intimidade filial com Deus, daquela capacidade de rezar a Ele com amor e simplicidade que é própria das pessoas humildes de coração.
Se o dom da piedade nos faz crescer na relação e na comunhão com Deus e nos leva a viver como seus filhos, ao mesmo tempo nos ajuda a dirigir este amor também para os outros e a reconhecê-los como irmãos. E então sim seremos movidos por sentimentos de piedade – não de pietismo! – nos confrontos com quem está próximo a nós e com aqueles que encontramos todos os dias. Por que digo não de pietismo? Porque alguns pensam que ter piedade é fechar os olhos, fazer uma cara de imagem, fazer de conta que é um santo. No dialeto piemontês se diz ‘fare la “mugna quacia”’. Este não é o dom da piedade. O dom da piedade significa ser realmente capaz de alegar-se com quem está na alegria, de chorar com que chora, de estar próximo a quem está sozinho ou angustiado, de corrigir quem está no erro, de consolar quem está aflito, de acolher e socorrer que está precisando. Há uma relação muito estreita entre o dom da piedade e a mansidão. O dom da piedade que nos dá o Espírito Santo nos faz mansos, nos faz tranquilos, pacientes, em paz com Deus, a serviço dos outros com mansidão.
Queridos amigos, na Carta aos Romanos o apóstolo Paulo afirma: “Todos aqueles que são conduzidos pelo Espírito de Deus são filhos de Deus. Porquanto não recebestes um espírito de escravidão para viverdes ainda no temor, mas recebestes o espírito de adoção pelo qual clamamos: Aba! Pai” (Rm 8,14-15). Peçamos ao Senhor que o dom do seu Espírito possa vencer o nosso temor, as nossas incertezas, também o nosso espírito inquieto, impaciente, e possa nos tornar testemunhas alegres de Deus e do seu amor, adorando o Senhor em verdade e também no serviço ao próximo com mansidão e com sorriso que sempre o Espírito Santo nos dá na alegria. Que o Espírito Santo dê a todos nós este dom da piedade.






7 - DOM DO TEMOR DE DEUS


Boletim da Santa Sé
Tradução: Jéssica Marçal
Queridos irmãos e irmãs, bom dia,
O dom do temor de Deus, do qual falamos hoje, conclui a série dos sete dons do Espírito Santo. Não significa ter medo de Deus: sabemos bem que Deus é Pai e que nos ama e quer a nossa salvação e sempre perdoa, sempre; por isso não há motivo para ter medo Dele! O temor de Deus, em vez disso, é o dom do Espírito que nos recorda quanto somos pequenos diante de Deus e do seu amor e que o nosso bem está em nos abandonarmos com humildade, com respeito e confiança em suas mãos. Este é o temor de Deus: o abandono na bondade do nosso Pai que nos quer tanto bem.
Quando o Espírito Santo faz morada em nosso coração, infunde em nós consolo e paz e nos leva a nos sentirmos assim como somos, isso é, pequenos, com aquela atitude – tão recomendada por Jesus no Evangelho – de quem coloca todas as suas preocupações e as suas expectativas em Deus e se sente envolvido e apoiado pelo seu calor e pela sua proteção, justamente como uma criança com o seu pai! O Espírito Santo faz isso nos nossos corações: nos faz sentir como crianças nos braços do nosso pai. Nesse sentido, então, compreendemos bem como o temor de Deus vem assumir em nós a forma da docilidade, do reconhecimento e do louvor, enchendo o nosso coração de esperança. Tantas vezes, de fato, não conseguimos acolher o desígnio de Deus e percebemos que não somos capazes de assegurarmos por nós mesmos a felicidade e a vida eterna. É justamente na experiência dos nossos limites e da nossa pobreza, porém, que o Espírito nos conforta e nos faz perceber como a única coisa importante é deixar-nos conduzir por Jesus entre os braços do seu Pai.
Eis porque temos tanta necessidade deste dom do Espírito Santo. O temor de Deus nos faz tomar consciência de que tudo vem da graça e que a nossa verdadeira força está unicamente em seguir o Senhor Jesus e em deixar que o Pai possa derramar sobre nós a sua bondade e a sua misericórdia. Abrir o coração para que a bondade e a misericórdia de Deus venham até nós. O Espírito Santo faz isso com o dom do temor de Deus: abre os corações. Coração aberto a fim de que o perdão, a misericórdia, a bondade, os carinhos do Pai venham a nós, para que nós sejamos filhos infinitamente amados.
Quando somos permeados pelo temor de Deus então somos levados a seguir o Senhor com humildade, docilidade e obediência. Isto, porém, não com atitude de resignação, passiva, mesmo lamentosa, mas com o estupor e a alegria de um filho que se reconhece servido e amado pelo Pai. O temor de Deus, então, não faz de nós cristãos tímidos, acomodados, mas gera em nós coragem e força! É um dom que faz de nos cristãos convictos, entusiasmados, que não ficam submetidos ao Senhor por medo, mas porque são comovidos e conquistados pelo seu amor! Ser conquistado pelo amor de Deus! E isto é uma coisa bela. Deixar-se conquistar por este amor de pai, que nos ama tanto, ama-nos com todo o seu coração.
Mas, estejamos atentos, porque o dom de Deus, o dom do temor de Deus é também um “alarme” diante da persistência no pecado. Quando uma pessoa vive no mal, quando blasfema contra Deus, quando explora os outros, quando lhes tiraniza, quando vive somente para o dinheiro, para a vaidade, o poder ou o orgulho, então o santo temor de Deus nos coloca um alerta: atenção! Com todo este poder, como todo este dinheiro, com todo o teu orgulho, com toda a tua vaidade, não serás feliz. Ninguém pode levar consigo para o outro lado nem o dinheiro nem o poder, nem a vaidade nem o orgulho. Nada! Podemos levar somente o amor que Deus Pai nos dá, os carinhos de Deus, aceitos e recebidos por nós com amor. E podemos levar aquilo que fizemos pelos outros. Atenção para não colocar a esperança no dinheiro, no orgulho, no poder, na vaidade, porque tudo isso não pode nos prometer nada de bom! Penso, por exemplo, nas pessoas que têm responsabilidade sobre os outros e se deixam corromper; vocês pensam que uma pessoa corrupta será feliz do outro lado? Não, todo o fruto da sua corrupção corrompeu o seu coração e será difícil ir para o Senhor. Penso naqueles que vivem do tráfico de pessoas e do trabalho escravo; vocês pensam que esta gente que trafica as pessoas, que explora as pessoas com o trabalho escravo tem no coração o amor de Deus? Não, não têm o temor de Deus e não são felizes. Não são. Penso naqueles que fabricam armas para fomentar guerras; mas pensem que profissão é esta. Estou certo de que se faço agora a pergunta: quantos de vocês são fabricantes de armas? Ninguém, ninguém. Estes fabricantes de armas não vem ouvir a Palavra de Deus! Estes fabricam a morte, são mercantes de morte e fazem mercadoria de morte. Que o temor de Deus faça com que eles compreendam que um dia tudo termina e que deverão prestar contas a Deus.
Queridos amigos, o Salmo 34 nos faz rezar assim: “Este miserável clamou e o Senhor o ouviu, de todas as angústias o livrou. O anjo do Senhor acampa em redor dos que o temem e os salva” (vv. 7-8). Peçamos ao Senhor a graça de unir a nossa voz àquela dos pobres, para acolher o dom do temor de Deus e poder nos reconhecermos, junto a eles, revestidos da misericórdia e do amor de Deus, que é o nosso Pai, o nosso Pai. Assim seja.



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